O dia começou aceleradíssimo. Pulei da cama já com a lista mental das zilhões de coisa que eu tinha que fazer antes de sair de casa em tempo de chegar ao dentista em tempo de chegar mais cedo ao trabalho em tempo de resolver pendências pessoais, como questões bancárias, documentação para o Imposto de Renda e solicitar outro cartão do ticket refeição.
Coração já acelerado, adrenalina a mil, passos rápidos, fui acordar a Sofia que tinha prova e queria fazer uma revisão da matéria antes de eu sair para o dentista. Ela abriu os olhinhos sonolentos, espreguiçou para o lado e disse dengosa:
- Mãe tô com muito sono, dá pra você deitar 15 minutos abraçada comigo? Eu coloco o despertador.
Mesmo com toda a pressa do mundo eu não resisto a um pedido desse. Deitei com ela, abracei, pensei no que eu teria que deixar de fazer para compensar esses 15 minutos e chegar ao dentista em tempo de tudo o que vinha pela frente, e relaxei. Relaxei, me lembrei de como eu gostava de ficar deitada assim com o meu pai, dos abraços com braços e pernas, cochilei e até sonhei.
O despertador, ou melhor o celular tocou um música da Katy Perry bem animada e alta. Acordei agora dançando deita na cama e rindo. Nós duas rindo, dançando e espreguiçando. Um novo despertar para um mesmo dia com muitos afazeres dentro do mesmo tempo. Agora, ao invés de ligeiramente ansiosa eu estava extremamente animada. Me senti muito agradecida a mim mesma por ter me permitido esses 15 minutos de entrega.
Acabei de me arrumar, orientei a Sofia no estudo, encaminhei as outras coisas de casa que eu precisava fazer e parti para o dentista sem tomar café da manhã, afinal isso foi substituído pelos 15 minutos a mais na cama.
Cheguei ao dentista na hora marcada, fui atendida sem atrasos (eu sou a primeira do dia justamente para evitar atrasos e eu ter tempo de chegar em tempo para dar tempo de fazer tudo o que me proponho no dia). Saí de lá e segui o meu caminho para o trabalho a passos largos e apressados. Apressados do tipo preciso chegar ao banheiro urgentemente, sabe? Já fazia a lista mental de tudo o que precisava fazer ao chegar no trabalho. Quanto mais cedo eu chegasse, mais tempo teria para resolver as tais questões pessoais.
Enquanto eu caminhava no meu passo “um banheiro pelamordedeus”, passou um motorista apressado, impaciente e buzinando para tudo e para todos. O meu primeiro pensamento crítico foi: coitado, tão cedo e ele já neste estado... tão estressado. Será que ele está sem tempo de chegar em tempo para dar tempo?
Foi aí que olhei para mim e me percebi com o coração acelerado, sentindo calor e uma leve sensação de ansiedade. Tão cedo e eu já neste estado... a um passo de ficar estressada.
Observei em volta e vi algumas pessoas sentadas com tranquilidade, tomando café da manhã calmamente, lendo com serenidade e um semblante de felicidade. E por alguns segundos eu me questionei como eu prefiro me sentir. Como o motorista apressado ou como as pessoas naquela padaria? E me lembrei de que eu não tinha tomado o meu café da manhã ainda. Então, resolvi me presentear.
Eu me sentei, pedi o meu café da manhã, abri o livro que tinha na bolsa, saboreei cada pedaço do meu café, absorvi cada linha da minha leitura. Relaxei. Foram trinta minutos que eu me dei um tempo sem preocupação de ter tempo.
Saí dali relaxada, tranquila, gratificada e me sentindo merecedora. E digo uma coisa, essa sensação de entusiasmo que substitui a pressa e ansiedade me ajudou a fazer tudo o que eu precisava. Deu tempo!