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domingo, 18 de junho de 2017

Meu Assaltante Favorito

História postada no meu perfil no Facebook que eu trago para o blog para ficar guardada.

A pessoa aqui é do tipo fiel. Além de fiel aos amigos, marido e tal. Por exemplo, eu tenho o meu garçom naquela pizzaria que vou tomar vinho com as amigas. O meu garçom que já sabe que eu vou pedir a terceira garrafa e que ele não vai trazer mesmo que eu reclame, ameace mudar de mesa (ele sabe que no fundo não farei isso), deixe rolar umas lágrimas ou solte uma gargalhada. O meu garçom que me encontra no shopping em uma tarde qualquer, para e dá dois beijinhos. A filha pergunta: Quem é ele? Quando eu respondo que é o garçom que me atende na pizzaria, ela retorna: "Nossa mãe, reconhecida na rua pelo garçom do bar?" É tipo mais ou menos isso. Só sei que escolho o lugar para ser atendida pelo meu garçom e espero ter mesa vaga na área que ele serve.

E na feira? Sou fidelíssima! Tenho vários feirantes para chamar de meu. Mas cada um em um setor. Sem traições. Tenho o meu feirante das frutas. Só compro nele, atendida por ele. E quando não tem a fruta que eu preciso na barraca dele? Não consigo me dirigir a outra. Me sinto um traidora. Aí o que o meu feirante faz por mim? Anota as frutas que eu quero e ele vai às outras barracas por mim. Eu fico ali parada na minha barraca e compro tudo lá. Tenho o meu feirante da barraca de legumes e verduras. Só compro nele. Também pudera, ele traz batata doce roxa pra mim. Não vou ser fiel a um feirante que se vira para arrumar batata doce roxa pra mim?! Esse aí eu sou fiel do tipo trocamos até telefone. Ele me liga para avisar o que tem de novidade na barraca naquele dia. Quando o telefone toca e aparece a foto dele o marido pergunta: "Quem é esse cara que tá te ligando?" E eu respondo: "É o meu feirante que quer saber se eu estou precisando de pepino.". É tipo assim! E quando eu não apareço na feira, ele liga para saber se está tudo bem, se eu quero que ele faça a feira pra mim e mande me entregar. Adoro esse atendimento, aí fico fiel. Só consigo comprar nele. A mesma história se eu estiver precisando de algo que ele não tenha, eu congelo, viro planta na frente da barraca dele e não consigo comprar em outra. Ah, e ainda tenho o meu feirante do camarão. Aquele que eu passo e falo: 1,5 kg do grande! Na vota eu pego já limpo! E na volta o camarão está com o peso certinho, posso até conferir em casa. Ah, fico fiel mesmo.

Teve uma época que eu tinha o meu motorista de táxi. Eu era superfiel. Ele fazia ponto de manhã cedo em frente a minha casa. E olha a coincidência?! No resto do dia no ponto em frente ao meu trabalho. Facilidade, né? Um dia, eu atrasada para um reunião, ao chegar no trabalho percebo que tinha simplesmente esquecido a bolsa. Isso mesmo, a bolsa inteirinha. O meu motorista falou: "Tem gente em casa? Então, vai tranquila para a sua reunião que eu volto lá, pego a sua bolsa e trago até aqui. Quando acabar a reunião a senhora me liga que eu te entrego.". Foi aí que eu garrei na fidelidade. Só ia com ele, só voltava com ele. Se ao final do expediente ele não estivesse no ponto eu virava planta. Não entrava em outro táxi. Ligava para o meu motorista. Um belo dia, depois de muito, mas muito tempo indo e vindo, com o meu motorista, eu me toquei que o cabelo dele crescia muito, mas muito rápido. Pela manhã estava curto. Ao final do dia estava grande. Aí um belo dia, curiosa com o que ele fazia para o cabelo crescer tão rápido e porque ele cortava todos os dias, perguntei o segredinho. O meu motorista era gêmeo. Isso mesmo! Eram dois! Um fazia ponto em frente a minha casa e o irmão em frente ao meu trabalho. Foi aí que eu descobri que eu traía o meu motorista da ida com o motorista da volta. Ou seria ao contrário? Qual dos dois eu traía? Pirei e larguei os dois. 

Bom, isso tudo para falar do meu lado que pega fácil na fidelidade. 

Aí nesta semana a minha filha mais velha foi assaltada bem na porta de casa. Conversando sobre o assalto a Sofia falou: mas o assaltante da Ana Luiza é bonzinho, ele não machucou ninguém, acreditou quando o menino que acompanhava a Ana disse que tudo dela estava com ele e nem tocou na Ana, e ainda devolveu a mochila quando eles a pediram de volta, porque tinha material de estudo e eles teriam prova.
Gente, muito bonzinho! Ótimo atendimento!
Daí, se o atendimento é bom e tem diferencial, a pessoa aqui já quer "garrar" na fidelidade! Quero esse assaltante para chamar de meu. Não quero outro. Se outro vier me assaltar vou recusar. Vou avisar que já tenho o meu, que ele me assalta na porta de casa, na maior tranquilidade, não machuca ninguém e ainda negocia o que leva, o que devolve, tipo ganha-ganha, sabe? Pronto! "Garrei" na fidelidade ao atendimento desse assaltante.

E assim a gente vive no Rio de Janeiro, cada um tendo o seu assaltante (no mínimo um) e agradecendo quando é bem assaltado no ponto de vista da vítima. Ao invés de ligar para o 190 poderíamos começar a ligar para o SAC. Quem sabe?!

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