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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Gente com medo de gente



Uma ida ao cinema com as amigas acompanhada de risos, seguida de pizza com vinho acompanhada de conversa e risos. Gente sendo encorajada por gente. Programinha bom que trouxe um conforto especial e que me deixou mais feliz.

Uma volta para casa caminhando a pé por volta das dez da noite, acompanhada de conversa e sobressaltos. Coisas do tipo apressa o passo, não dá bobeira a essa hora na rua, olha o carro da polícia prendendo um homem, anda rápido, achei que tinha alguém me seguindo. Gente com medo de gente. Um pequeno trecho que trouxe certo desconforto e quase minou aquela sensação anterior de estar mais feliz. O que o cenário de violência faz com a gente?!

Paramos no sinal, eu atravessei para a esquerda sozinha e elas seguiram para a direita. Assim que atravessei a rua, eu cheguei a uma pracinha. Ali estavam três homens moradores de rua fazendo uma boquinha, dividindo uma quentinha em um prato de alumínio, sentados em um banco. Eu caminhando com duas meias garrafas de vinho, uma em cada mão, depois de dividir uma pizza com duas amigas.

— Boa noite, tia! Dá uma dessas aí pra gente?!

Apesar da simpatia na voz e a forma gentil de abordagem, um rápido sobressalto e pensamentos do tipo eles vão vir em cima de mim para pegar as garrafas passaram pela minha cabeça. Gente com medo de gente. Rapidamente resolvi parar, dar atenção e falar com a mesma gentileza. Resolvi ser gente encorajada por gente.

— Boa noite. Elas estão vazias — falei com tranquilidade e sorriso leve no rosto.
— Ih tia, bebeu todas, hein?

Mais um rápido sobressalto e pensamentos do tipo se eles acharem que estou bêbada podem vir em cima de mim. Gente com medo de gente. Respira, afasta esse tipo de pensamento e continua o diálogo com tranquilidade. Resolvi ser gente encorajada por gente.

— Que nada! Peguei essas garrafas vazias no lixo.

Na verdade uma das meias garrafas eu tinha bebido com as minhas duas amigas e a outra realmente peguei no lixo. Mas achei mais simples falar apenas que as peguei no lixo.

Os três riram. Na certa me imaginando revirando o lixo.


— Mas por que a tia pegou as garrafas no lixo?
— É que eu faço artesanato com as garrafas. Vou pintá-las.
— Ah que legal! Outro dia a tia traz uma garrafa pintada pra gente ver?
— Trago sim. Aproveito e trago cheia de suco. Pode ser?
— Pode ser, mas se a tia quiser trazer cheia de vinho,a gente vai gostar também.


E caíram na risada novamente.


— Combinado! Boa noite.
— Boa noite, tia. Vai com Deus.
— Ok. Fiquem com Deus.

Segui o resto do meu caminho mais leve. Com aquela leveza inicial que o filme e a pizza com as amigas tinham me proporcionado e o caminho para casa estava quase apagando. Aquela conversa improvável me trouxe um conforto especial, mesmo os três insistindo em me chamar de tia. Como é bom ser gente e não ter medo de gente! Quando seremos humanos a ponto de termos medos de fantasmas, monstros, baratas, aranhas, coisas assim?

5 comentários:

  1. às vezes estamos com tanto medo que perdemos algumas oportunidades
    Seja em vários campos da vida!

    Bjooos
    muitospedacinhosdemim.blogspot.com.br

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  2. Infelizmente a violência acaba deixando a gente sempre na defensiva mesmo. Que bom que vc se saiu muito bem e ficou tudo bem!

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  3. A questão é que o medo é real, Chris. Eu também tenho a tendência em não ver mal nas pessoas, a princípio. Mas, assim como tu, acabo me colocando em situações de risco. Triste, mas verdade. Mas sigo acreditando nas pessoas!

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  4. Eu morro de medo do Rio. Uma vez fui ver a queima de fogos na virada, e depois que terminou uma louca. Sem táxi, ônibus lotado, metrô só pra quem tinha ticket então andamos por aqueles túneis praticamente correndo com aquele povo fazendo arruaça "menti". Meu nunca passei tanto medo. Consegui um táxi so no Botafogo

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  5. Puxa vida Chris...
    Uma bela reflexão. Esta semana falávamos exatamente sobre isso, eu e meu marido. Nesta vida louca, muitas vezes não tratamos as pessoas com consideração...sempre com medo
    Bjs, querida

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