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quarta-feira, 2 de maio de 2018

Nenhum planejamento, muitas histórias



Em uma tarde qualquer do meu período entressafras, ou seja, desempregada, saí de casa sem planejamento.

Simplesmente saí caminhando tranquilamente sem hora marcada, deixando acontecer.

Um cinema? Uma caminhada na praia? Um café? Apenas possibilidades. Nenhum planejamento, muitas possibilidades.

Passei em frente a uma livraria e deu vontade de entrar, entrei.

Entre vários livros me deparei com uma capa verde com o título: “Mas você vai sozinha?”, pergunta que ouço com frequência. Fiquei curiosa sobre as histórias naquelas páginas. Sem planejamento para aquela tarde, peguei o livro e subi as escadas.

Sentei no café, pedi uma soda morangada e fiquei ali folheando aquelas páginas, lendo as histórias que me interessavam, dando um gole e outro na minha bebida, observando ao redor.

Na mesa ao lado, que estava vazia até a última vez que levantei os meus olhos do livro, estava ocupada por amiga. Ih, surpresa! Ela estava ali também ao acaso, sem planejamento. Nenhum planejamento, muitas surpresas.

Nos sentamos juntas e começamos a conversar sobre viagens, assunto do livro que eu estava lendo, e planejamento, ou melhor, sobre a falta de planejamento. Este que fez nos encontrarmos ali ao acaso. Nenhum planejamento, muitos encontros.

Falamos do quanto as viagens de hoje em dia são planejadas, milimetradas. Muito antes de partimos já conhecemos os detalhes dos nossos destinos. Sabemos onde nos hospedaremos, os locais que visitaremos, o trajeto que iremos percorrer e os restaurantes que iremos comer. Se bobear até o cardápio já está definido e o valor da conta calculado.

Planejamento em viagens até bom, sim. Há quem diga que é imprescindível. Planejamento ajuda a reduzir o custo das viagens e evita imprevistos e roubadas. Muito planejamento, nenhum imprevisto. Será?

Ah... os imprevistos e as roubadas... como eles rendem boas histórias. Como eles tornam as viagens mais inesquecíveis...

Como é bom chegar em Fernando de Noronha ver um cara local andando na rua, parar para pedir dicas do que fazer na região, da melhor praia para ir em qual horário, qual o barzinho legal, etc. E dessa simples conversa inicial surgir uma amizade para os 10 dias de estadia. Amizade que possibilitou ir até a casa do Chico pegar aipim plantado no quintal dele e levar para ser frito no bar do Boldró. Comer o melhor aipim frito da vida, assistindo a um pôr do sol deslumbrante, ouvindo histórias do local, dançando aquele forró raiz. Nenhum planejamento, muitas experiências.

Que tal entrar em um voo para Londres tendo conhecimento apenas de alguns pontos turísticos vistos nos cartões postais enviados por um amigo em sua viagem? Começar a conversar com a garota que está sentada ao seu lado e descobrir que ela também está indo para Londres e ainda não tem hotel definido. As duas resolverem pedir dica para aeromoça e acabarem as três dividindo um quarto de hotel e dali se tornarem não apenas ótimas companhias de viagem, mas amigas para toda a vida. Nenhum planejamento, muitas amizades.

E sobre estar passando uma temporada em Morro de São Paulo com a intenção apenas de andar descalça, curtir muita praia durante o dia e algumas festas à noite. Sentar ao lado de um casal na 3ª praia, começar uma conversa, saber que no dia seguintes eles estão partindo para a Chapada da Diamantina, aceitar o convite para se juntar a eles. Nenhum planejamento, muitas aventuras.

Por um beijo na boca desistir do próximo destino e querer prolongar a estadia naquele paraíso. Simplesmente por não ter nada planejado, agendado, pago, e principalmente por não saber exatamente o que tem a perder deixando aquele local para outra ocasião, mas saber (ou achar que sabe) o que tem a ganhar ficando naquele paraíso por mais um tempo. Nenhum planejamento, muita liberdade.

Tem roubada, tem sim senhor! Chegar em um destino em que o Guia de Praias do Brasil marcava com três estrelas (marcação máxima) e detestar. Ficar totalmente frustrada porque chegou no dia errado, na época errada, com o clima errado. E se ver em uma sala de hotel de beira de estrada bem fuleiro (era o único aberto), sentada em um sofá rasgado com as pernas colando de suor na capa de plástico, com um ventilador rodando em câmera lenta não afastando nem o calor, nem as moscas, assistindo em canal qualquer de um TV cheia de chiado e comendo uma lata de leite condensado comprada na única birosca aberta na cidade. Olha para amiga na sua frente e cair na risada pela situação em que se encontram. Nenhum planejamento, muitas roubadas.

Foi assim que em uma tarde qualquer, sentadas em um café, compartilhamos muitas histórias, lembranças e a saudade das viagens que eram contadas para os amigos e familiares em cartões postais que muitas vezes chegavam depois de nós. Naquele pequeno espaço atrás de uma foto, entre o endereço do remetente e o espaço para o selo, contávamos muito mais do que roteiros executados e lista do que fazer, falávamos de emoções, sentimentos e experiências vividas. Uma tarde sem nenhum planejamento e com muitas histórias.



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8 comentários:

  1. Nossa Chris, que máximo!
    Eu n sou assim, n consigo fazer amizade tão fácil
    n é por nada, além da timidez heheheheheeh
    deve ser mt bom do nada, sem planejamento nenhum, conseguir momentos assim!

    Bjooos
    muitospedacinhosdemim.blogspot.com.br

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    1. Fernanda, eu acho muito bom. Pequenas surpresas podem nos dar grandes momentos e histórias para contar.
      beijos
      Chris

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  2. Que bom quando damos chance ao improviso...podemos ter probleminhas mas por vezes faz bem!😗😗

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    1. Sim Chica, o imprevisto, o imprevisível nos prepara, nos mostra como agimos nessas situações e depois que passa, geralmente, rende boas histórias e risadas.
      beios
      Chris

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  3. Que belo texto, Chris! SE pudesse dar um conselho aos jovens, seria: Vivam, com bom senso e reflexão, mas sem amarras se quiserem voar.
    Abraço!

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    1. Dalva, muto obrigada pelo visita. Um ótimo conselho o seu.
      beijos
      Chris

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  4. Amei a singeleza que você abordou o tema... Sei que para muitas pessoas não fácil ser descontraída e entrar em um papo sem nexo, com uma pessoa totalmente desconhecida.

    Vim morar em uma cidade que é meio arisca. Você demora fazer amizade... o papo não flui, secos e frios. Às vezes, confesso que nem estou tão assim para aquela conversa fiada, quero simplesmente ficar no meu mundo.
    Mas não dá, precisamos estar abertos as grandes oportunidades da vida, não podemos ser aqueles que não somos para agradar os outros. Mas não precisamos ser tão ariscos...

    Beijos
    Karin
    www.mamaeecia.com.br

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    1. Oi Karin, muito obrigada pelo comentário. Amei a forma como foi sincera e aberta no seu comentário.
      beijos
      Chris

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