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quinta-feira, 13 de abril de 2017
"13 Reasons Why" e as festas sem os pais em casa
Este post na verdade era para ser sobre a série "13 Reasons Why" que eu já estou para escrever há mais de uma semana. O assunto acabou desviando um pouco, mas de qualquer forma se manteve em torno da série.
Pensando sobre algumas diferenças do universo adolescente dos americanos, pelo menos o mostrado na série, e dos nossos adolescentes brasileiros, pelo menos das minhas adolescentes, cheguei a algumas diferenças, como:
- direção aos 16 anos. Nós mães e pais brasileiros adiamos a nossa preocupação por mais dois anos. Ufa! Mais tempo para nossos filhos amadurecerem.
- aquela coisa que americanos têm de quarto fechado e que os pais não podem entrar, precisam respeitar o espaço dos filhos, e coisa e tal. Por aqui as portas podem ser fechadas, sim, tem o respeito ao espaço delas, mas não tem a "proibição" dos pais entrarem. Quando eu quero, quando eu sinto que é necessário, quando eu percebo que estão muito tempo distante da família, dou aquela batidinha rápida para avisar que estou entrando e vou entrando. Sem me sentir mal, sem me sentir uma invasora do espaço alheio, nem de privacidade de filha. Tendo a certeza, na verdade, de que estou fazendo algo importante e necessário: estar mais presente e mais atenta possível ao que está acontecendo com as minhas filhas.
- as festas em casa sem os pais. O meu primeiro pensamento foi que talvez até como uma preparação para a vida universitária, ou pela segurança que eles têm, lá nos States os pais viajam e deixam os filhos sozinhos em casa mais cedo. Vemos as festas em casa quando os pais viajam em muitos filmes americanos com a temática adolescentes. Aqui não rola.
Mas pensando bem eu me lembrei de duas situações. E que situações!
A primeira foi quando os pais de um amigo da minha filha mais velha viajaram. A turma de adolê devia estar com seus 16 anos. Os pais do menino viajaram, mas não o deixaram em casa, sozinho. Deixaram na casa de um amigo e o menino ficou com a chave de casa para o caso de precisar de algo. E ele precisou. Precisou marcar uma social com a turma no apê vazio. Aconteceu que alguns dos convidados, como foi o caso da minha, falou a real para as suas mães. Vai ter a social, mas os pais não estarão por lá. Aconteceu também que as mães se falam, trocam ideias, coisas assim. E, neste caso, fizeram bom uso daquele grupo de WhatsApp da turma dos filhos. Assim, a tal social livre, leve e solta, babou. Uma das mães ofereceu a sua casa e a "festiva" foi transferida para um lugar mais seguro ao olhar dos pais, e mais "na moral? Que saaaaco!" na visão dos filhos. Mas assim foi.
A segunda foi quando eles já estavam com os seus 17 anos e uma mãe viajou deixando a sua filha, pela primeira vez, sozinha em casa por um final de semana inteiro. Que independência! Que responsa! A responsabilidade era tanta que a menina se sentiu responsável por organizar uma social na casa dela e chamar a turma. Tudo sem a mãe saber. O plano estava perfeito. Ou quase perfeito.
No meu caso essa social gerou uma "tremenda situação" porque a minha filha me falou a verdade. E com base no fato dela ter me dito a verdade, não ter mentido para mim, ter confiado em mim para manter a confiança que tenho nela, acho que por isso eu devia deixá-la ir. E ainda mais, por isso eu não podia quebrar a confiança dela em mim e contar para a mãe da anfitriã. Que situação a minha!
Bom, conversei com a minha filha amada e expliquei que ela não iria a tal social. Não iria pelos riscos que eu deixei claro. Há desde os riscos pequenos de propriedade - algo é quebrado, manchado ou roubado. E há os riscos pessoais - alguém é ferido, bebe demais, ou até a polícia pode ser chamada por excesso de barulho.
E não iria porque se eu deixasse, eu estaria apoiando essa atitude errada. Deixá-la ir à festa na casa da menina sabendo que a mãe não estava lá e não tinha autorizado era o mesmo que eu passar por cima da outra mãe. Era como se eu estivesse dizendo "Bobeira dessa mãe, deixa a galera se divertir na casa dela.".
Ponto! Agradeci enormemente a minha filha ter me falado a verdade, expliquei que ela não estava sendo punida por falar a verdade, mostrei que eu não tinha outro caminho sem ser o de não permitir que ela fosse. A minha filha entendeu esta parte.
Aí veio a segunda. Eu no papel de mãe e amiga da mãe viajante me sentia na obrigação de avisar do plano quase infalível. A minha filha me pedia e implorava para eu não contar. Imagina ela ser a responsável por estragar tudo porque falou a verdade para a mãe?! Jogou no meu colo o fato dela ter sido a única que falou a verdade, contou porque confiou em mim e eu não podia fazer isso com ela. Não podia traí-la. Não deixá-la ir era uma coisa. Já estragar a festa de todos era outra. Fiquei eu no maior dilema. Que situação! Que sinuca de bico! E se acontece algo na tal festa comigo sendo a única adulta responsável que tinha conhecimento? Conversei muito com a Ana Luiza e senti que precisava privar para minha relação com a minha adolescente não ser abalada, que não podia trair a lealdade dela, nem quebrar a confiança que ela teve em mim. Com o coração na mão, me sentindo a maior irresponsável do mundo, decidi, sabendo que não era uma boa decisão, que deveria dar um crédito por ela ter me falado e verdade e não soltar a bomba no grupo de WhatsApp, nem ligar para a mãe dona da casa.
Não me senti em paz! Me senti péssima. Fiquei superpreocupada. Rezando muito para correr tudo bem na tal social.
Acontece que um outro pai atento e presente, ligou para a mãe da anfitriã para confirmar a tal festa e o diálogo foi assim (fiquei sabendo depois):
- Oi Dona Fulana, aqui é o pai do sicraninho. Desculpa te incomodar, mas como o meu filho anda mentindo muito ultimamente, eu resolvi te ligar para saber se vai ter mesmo a festa na sua casa hoje. Se está tudo certo, tudo combinado.
- Olha Seu Cicrano, ou o seu filho está mentindo para você, ou a minha filha está mentindo para mim, porque eu estou viajando e não autorizei festa nenhuma lá em casa.
Bom, social babada! Plano quase infalível falhou porque os pais estão atentos. Aliás, esta foi outra diferença entre os dois universos adolescentes que eu percebi vendo a série "13 Reasons Why", a forma de educar. Aqui, no geral, ainda somos mais "invasores" de privacidade.
Na boa, Chris, teus textos me fazem refletir muito sobre como será quando meu pequeno for adolescente. Por entre, sinto um medo bem grande! E fico feliz por sermos bem mais invasores de privacidade que os americanos.
ResponderExcluirChris, terminei de assistir ontem a tal série, e vejo sim diferenças importantes como você citou entre os nosso adolescentes e os de lá. Acho que vc agiu de forma correta aconselhando a sua filha, e a verdade veio a tona por outro meio.
ResponderExcluirO que me preocupa muito assistindo a série, é que independente do lugar, os adolescentes hoje em dia estão mais expostos e de certa forma mais vulneráveis, e a barra fica cada vez mais pesada. Se a pessoa não tiver uma boa base, coisas exacerbadas podem acontecer.
Ótimo post!
Muito reflexivo.
Muito legal a confiança que você tem com suas filhas.. minha mãe teve duas, minha irmã e eu, idades bem próximas, 1 ano e 2 meses de diferença, e sempre tivemos essa mesma relação, quando minha mãe era chamada na escola ela ja sabia bem mais do que os diretores, qual a causa. Sobre essa questão de proibir suas filhas de festas pelo modelo dos Estados Unidos, no lugar de filha que teve uma boa relação com a mãe, te digo, não é uma boa.. Minha mãe me deixava na porta das festas e me buscava no horário definido, quando eu comecei a beber ela soube e eu comecei a beber junto com ela.. a diferença entre a minha presença nas festas e a presença de outras adolescentes escondidas, estava no comportamento.. em honra a boa relação que eu tinha com a minha mãe, eu pensava mil vezes antes de tomar qualquer atitude, porque não queria estragar nada.. e aqueles que eram proibidos, meio que não tinham nada a perder.. festa de adolescente em casa assistida pelos pais, não dá! Eles podem até se divertir, tomar um refrigerante e ver um filme, falar sobre coisas "aceitáveis", mas o espírito aventureiro deles permanece e precisam ser experimentados em ação.. eu dei meu primeiro beijo com 16, e claro que isso não aconteceu nas festas que minha mãe dava para os meus amigos.. as coisas da idade vão acontecer não é na frente das mães, e isso dá medo, eu imagino, várias inseguranças, mas para o filho seguir no caminho certo, ele precisa ser confiante, e depende muito do pai e da mãe pra isso. Diante de festas e eventos longe dos olhos dos pais, eu vi muita coisa acontecer a minha volta, meninas perderem a virgindade com meninos que não prestavam, drogas, gravidez precoce.. entre essas pessoas, grande parte amigas e amigos meus, o que não me levou a ser alcoolata, a ser fumante, a ser usuário de drogas ou dar um neto pra minha mãe... me levou a penas a me divertir com meus amigos sem precisar de coisas que eles precisavam, me levou ao primeiro beijo, a perda da virgindade veio ja bem mais velha, em relacionamento sério e tudo bem organizado.. o que eu quero dizer é: eu entendo dos pais o desejo de proteger seus filhos, do medo de outras pessoas.. mas as escolhas deles serão tomadas independente se na sua frente ou escondido.. então é melhor deixá-lo "livre" como seu amigo..
ResponderExcluirquando eu tiver um filho, vou deixar querer que ele cresça como meu amigo.. se ele tiver curiosidade de experimentar bebidas alcoólicas, vai brindar comigo primeiro e depois com os amigos dele, me contar de quem teve porre, me pedir remédio pra ressaca.. todas essas experiências que eu tive, vou deixar meu filho ter à escolha dele, me tendo sempre por perto, porque as coisas ruins vão sempre existir, e deixar seu filho longe disso é privá-lo do mundo. a melhor coisa que tu faz é ser a melhor amiga das tuas meninas, isso é raro, os adolescentes tem medo ou querem distância dos pais pelos valores muito conservadores.. e uma fase do seu filho de querer curtir demais, é uma fase.. quando você é criado com amor e confiança, as coisas ruins não são atrativas, MESMO.
Enfim, longe de mim querer te falar como educar suas filhas, só to dizendo que como alguém que ha pouco saiu da fase mais caótica da vida, take it easy, adolescente é intenso, e assim precisa ser, pra amadurecer emocionalmente para a vida adulta.. e se você é tão próxima assim das tuas filhas, qualquer coisa de errada que esteja acontecendo na vida delas, você vai perceber, assim como a gente percebe de um grande amigo, e essa é a palavra-chave!
Eu estou no episódio 8 da série e já pude perceber que a falta de supervisão dos pais culmina em muitas coisas que poderiam ter sido evitadas. Nao acho que é pecar pelo excesso, mas sou a favor de um acompanhamento criterioso dos filhos sim e você tomou a atitude certa em não permitir a ida a tal festa sem os pais
ResponderExcluirGraças a Deus temos essa diferença na educação e invasão na privacidade deles né! Aqui assisti a série e realmente é impactante, gosto muito dos seus textos parabéns
ResponderExcluirFico muito feliz em saber que somos diferentes dos norte americanos e que meus pensamentos de como será a educação das minhas filhas está no caminho certo. Temos sim que está atentos aos nossos filhos.
ResponderExcluirParabéns pelos seus textos inspiradores.
Amiga super concordo e não acho que o termo "invasão de privacidade" seria o certo. Nos queremos o bem para o nosso filho e veja só a diferença. Sua filha confia tanto em ti que foi a única que te contou. Isso é fato. Não acho legal isso não e se precisar usar esse termo eu usarei sim, ou até de mãe super protetora porque nessa fase eles acham que sabem de tudo sobre o mundo né?
ResponderExcluirhttp://www.arianebaldassin.com
Fico muito feliz que aqui temos essa educação de interferir a privacidade deles.
ResponderExcluirEspero poder ter essa confiança com o Gui e futuramente com a Mari, parabéns Chris pela educação e amizade entre vcs
Bjs Mi Gobbato
Chris, adorei a reflexão e os exemplos e concordo plenamente com você. Atenção e cuidado responsável não podem ser negligenciados pelos pais. Se não corremos riscos muito grandes.
ResponderExcluirClau