A última vez que eu tinha ida a
Ilha de Paquetá as meninas ainda eram pequenas. Foi em um passeio de férias de julho.
Apesar da vontade frequente de retornar a esse recanto de paz e tranquilidade, fui adiando, deixando para outro dia. Tive vontade de ir no Carnaval curtir os blocos que desfilam na ilha. Tive vontade de ir em um dia qualquer só para flanar por ruas de terra, casas de muro baixo e árvores. Tive vontade de ir para voltar no tempo. Mas nada!
Até que agora surgiu a oportunidade de fazer um
passeio de bike na Ilha de Paquetá com o grupo do
Sou+Carioca. Fui e valeu muito a pena!
Pedalar com tranquilidade sem ter que ter cuidado com os carros, sem ouvir buzinas, sem a tensão do trânsito, sem se preocupar com a segurança, é bom demais. Tipo imperdível!
A curtição do passeio começa com a viagem de barca pela Baía de Guanabara. O trajeto de 15 km da Praça XV até Paquetá dura aproximadamente uma hora e dez minutos e conta com belíssimas paisagens da Baía de Guanabara e no entorno, como a Ilha Fiscal, a Ponte Rio-Niterói, etc. Vale sentar na janela para sentir a brisa e apreciar o visual.
Os horários e tarifas das barcas podem ser consultados no site
CCR Barcas.
A chegada da barca em Paquetá já encanta e contagia com o clima bucólico.
O desembarque se dá na principal praça da ilha, a Pintor Pedro Bruno. Onde começou o nosso passeio de bicicleta. Apesar de ser possível levar a bike nas barcas, nós preferimos alugar a nossa por lá.
Basta seguir pela rua principal que fica bem em frente a praça que encontramos diversas lojas de aluguel de bicicletas.
Após pegarmos o nosso veículo retornamos para a Praça Pintor Pedro Bruno projetada pelo próprio pintor
. O busto em bronze em homenagem ao pintor é obra do escultor Paulo Mazzucchelli.
Fotos de cá, fotos de lá e seguimos o nosso percurso inciando para a esquerda da praça. Escolhemos essa direção por ser contrária a que a maioria das pessoas opta.
Seguimos pedalando em direção a nossa primeira parada:
Casa da Moreninha
Casa charmosa, toda rosa e famosa, pois ali foram gravadas as cenas externas das novelas (sim foram duas) de mesmo nome, da Globo. Pena que é uma propriedade particular e não é aberta ao público. Por isso fotos só através do muro de grade.
De lá continuamos pedalando na mesma direção pela rua de terra batida beirando a baía até:
Relógio Mesbla
Réplica em menor escala do relógio da antiga sede da Mesbla, no Passeio. Ali em frente ficava o clube dos empregados da empresa que iam desfrutar as festas de fim de ano.
Nossa próxima parada foi no caminho para o Parque Darke da Mattos, na Rua Manoel Macedo
.
Cemitério dos Pássaros
Em algumas cidades a visita ao cemitério faz parte do roteiro turístico. Mas este tem uma curiosidade, é dedicado aos pássaros. Foi construído por artistas nascidos na ilha e abriga jazigos em miniaturas onde repousam vários tipos de aves. É muito bem cuidado com plantas, esculturas de pássaros e um “painel poético” com várias placas presas ao muro com trechos de poemas que falam de pássaros.
Parque Natural Municipal Darke de Mattos
Aqui estacionamos as nossas bicicletas sem precisar trancá-las. Na ilha não há perigo, e o parque não permite entrar com bikes.
O Parque Darke de Mattos é parada obrigatória em Paquetá. Aliás, eu acho até que este parque merecia um post exclusivo só para mostrar as belezas dele.
Vale caminhar com calma observando as árvores centenárias, as áreas gramadas, sentar em um dos bancos espalhados para aproveitar a sombra e curtir a vista.
Vale também aproveitar os outros atrativos do parque como o Mirante do Morro da Cruz. Mas antes de começar a subida vale observar os bancos esculpidos na pedra com uma mesinha entre eles. Diz-se que ali os jesuítas realizavam a catequese dos índios.
No alto do Morro da Cruz está o mirante que tem uma vista deslumbrante montanhas, serras e ilhas que circundam a Ilha de Paquetá,
a Praia José Bonifácio com a Praia da Moreninha mais atrás e do próprio parque.
Outros atrativos do parque são as grutas e túneis decorrentes da extração do caulim (argila para cerâmicas e papéis), o terraço amplo com lindas vistas para praias e as montanhas que contornam o Rio, uma praia acessada por uma pequena passagem que lembra um covil de piratas, a trilha e mirante do
Morro do Vigário, áreas com playground, espaços para piquenique e um jardim enorme e cheio de charme para todo lado.
Saindo do parque pegamos nossas bikes que estavam estacionadas e seguimos beirando a mais popular da ilha.
Praia José Bonifácio
Nela estão os pedalinhos coloridos em formato de cisne, alguns bares e também a Casa de José Bonifácio.
Casa de José Bonifácio
Foi nesta casa que José Bonifácio, o Patriarca da Independência, cumpriu prisão domiciliar e passou os últimos anos de sua vida. A casa de chácara foi presenteada a José Bonifácio pelo Imperador D. Pedro I. Quem também circulou muito por ali foi o Imperador D. Pedro II que na sua infância foi educado por José Bonifácio.
A casa é propriedade particular e não está aberta ao público. Dizem que irá se tornar um museu e aí sim poderemos visitá-la. Por enquanto, fotos só pelo lado de fora da grade.
Foi em homenagem a este personagem importante da história do Brasil que a antiga Praia da Guarda passou a se chamar "Praia José Bonifácio".
O próximo destino seria a Pedra da Moreninha, mas com uma pausa para histórias e lendas na
Pedra dos Namorados
Localizada na Praia José Bonifácio, no lado oposto ao Parque de Mattos, essa pedra enorme que fica bem na beira da água tem em seu topo várias pedrinhas.
Isso porque reza a lenda que a namorada ou namorado que vier a Paquetá e, em uma de três tentativas, conseguir jogar uma pedrinha sobre a Pedra dos Namorados de modo que ela não role e caia no mar, ganhará com isso muita sorte no amor, vindo a casar-se e ser muito feliz com o seu companheiro ou companheira. Tem gente que dificulta dizendo que as pedrinhas devem ser atiradas de costas.
Bom, eu como sou casada resolvi não tentar. Melhor deixar quieto.
Bem ao lado, na mesma parada para ver a Pedra dos Namorados está a Ponte da Saudade.
Ponte da Saudade
Uma ponte azul que mais parece um píer e dizem ter um pôr do sol belíssimo.
Mas nem sempre foi essa ponte de madeira. Dizem que na época da escravidão era uma ponte de pedras. Era neste cais de pedra que os escravos chegavam a Paquetá após a quarentena na Ilha de Brocoió.
João Saudade, um escravo muito forte, chamado por seus feitores de João da Nação Benguella, ia ali todos os dias após o trabalho rezar por seus amores Januária e Loreano, filho deles dois. João Saudade acreditava que Iemanjá traria os dois, assim João esperava vê-los chegando naquela "ponte".
Depois de muitos anos de saudade e reza, em uma noite ocorreu um fato estranho: surgiu no céu uma estrela muito grande e muito bela, e os seus raios de luz, iluminando a noite, transformaram-na em dia por alguns minutos. Justamente quando o clarão se apagou e a noite voltou ao céu, João Saudade, que rezava no cais, havia desaparecido juntamente com a estrela brilhante.
Os escravos passaram a crer que a saudade de João fez com que Iemanjá viesse buscá-lo e levá-lo de volta para suas terras e seus amores. A partir de então o local tornou-se ponto de reza dos escravos na esperança de algum dia também serem levados de volta para a África por alguma estrela.
Chorei escrevendo essa história!
Enxugando as lágrimas e voltando para o pedal continuamos pela Praia José Bonifácio em direção à Praia da Moreninha para o próximo ponto.
Pedra da Moreninha
Famosa por supostamente ter servido como inspiração de cenário para o romance "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo, considerado o primeiro marco do romantismo na literatura brasileira.
A pedra é um ponto alto de onde se tem uma vista incrível do mar e parte da orla de Paquetá. O acesso ao topo é por uma escadinha e uma ponte.
Se o romance foi realmente inspirado naquele local ou não, não se sabe, mas sentar ali em cima olhando o mar que se estende até o Rio, dá para se sentir no romance e imaginar Carolina sentada, esperando seu amado Augusto.
Saindo do romance e voltando para a realidade demos sequência ao nosso percurso com pausa na
Praça São Roque
São Roque é o padroeiro da Ilha de Paquetá. Na praça, que fica em frente à praia de São Roque, está a Capela São Roque, lindinha e que vale entrar para agradecer e fazer uns pedidos, e o Poço de São Roque.
O poço São Roque tinha água em quantidade e de qualidade. Antigamente abastecia a Fazenda São Roque e posteriormente foi fonte de abastecimento de toda a região do Campo. Hoje se encontra fechado desde a chegada da água encanada na Ilha de Paquetá.
Mas a história dele não fica por aí, tem mais lenda!
"Beba dessa água pensando na pessoa amada
e, por você, essa pessoa ficará grandemente apaixonada…
e se ainda não tem par,
beba um gole só: bem devagar…
e, por você, um coração na Ilha de Paquetá irá se apaixonar…"
Dizem também que a água do poço curou uma úlcera na perna de D. João e que após este feito milagroso, D. João se tornou devoto de São Roque.
Tá bom de lenda e fomos ver arte.
Casa das Artes de Paquetá
Eu que amo um Centro Cultural preciso fazer mais um passeio por esse bairro cercado de águas por todos os lados e conhecer a Casa das Artes com calma. Desfrutar do jardim, sentar no café com calma, fazer fotos na escada de mosaicos que acesso ao inspirado nas obras de Gaudi, em Barcelona.
Bora começar o caminho de volta porque a barca de volta tem horário e a barriga já está começando a dar sinais de fome.
Da Casa das Artes é só seguir pela Rua Maestro Anacleto em direção à Praia dos Tamoios.
Parque dos Tamoios
O Parque dos Tamoios é mais um espaço charmoso na chamada Ilha do Amor. Tem área de brinquedos para as crianças. Mas todo o charme está no pergolado azul com pilastras brancas.
Pedala, pedala...
Baobá Maria Gorda
Um belíssimo exemplar dessa árvore africana que fica no meio da rua, na orla da Praia dos Tamoios. Além de ter centenas de anos e mais de sete metros de circunferência, também rola uma lenda acerca desta árvore.
Neste dia, na hora em que passei pela Maria Gorda, ela estava cercada de pessoas que tentavam abraçá-la. Não consegui dar o meu beijo, nem abraço nela. Mas não resisti, e mesmo este post já estando cheio de fotos, trouxe o registro da gente tentando abraçar o baobá na nossa
visita em 2010.
Canhão que Saudava D. João VI
Este canhão em cima de uma pedra, no meio da rua, apontado para o horizonte da Praia dos Tamoios, fazia parte de uma bateria de canhões usada para saudar a chegada de D. João VI a partir de 1808, quando o rei começou a frequentar a ilha.
O povo parou para almoçar no Restaurante Quintal da Regina que participa do Comida de Bouteco. Mesmo com fome eu não fiquei para o almoço. Quis adiantar o retorno para o Rio e pegar a barca mais cedo. Me arrependi. Devia ter ficado, saboreado a comida e voltado no horário que pega o pôr do sol em plena Baía de Guanabara.
Antes de entrar na barca passei na igreja para agradecer e fazer meus três pedidos. Afinal, reza a lenda que cada vez que entramos pela primeira vez em uma igreja temos direito a fazer três pedidos.
Paróquia Senhor Bom Jesus do Monte
Aqui fechei a volta na ilha já que a igreja no estilo gótico, arquitetura encantadora, com um jardim na frente, vista para a baía, e o interior charmoso e claro, fica bem pertinho das barcas, meu ponto de chegada e agora ponto de partida.
Gostei muito de ter feito o passeio de bicicleta ao redor da ilha. Gostei do que vi ao retornar a Paquetá depois de oito anos. Na última vez ainda tinham os cavalos e as charretes guiadas por animais. Agora o bairro, sim Paquetá é um bairro do Rio de Janeiro, está mais limpo, mais charmoso, mais organizado.
Saí de lá com vontade de voltar no próximo final de semana.
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