Os tais patinetes

O tais patinetes... A primeira vez que eu os vi foi em Viena. Adorei a ideia! Vi mulheres de salto e saia indo trabalhar pela manhã e achei cool. Vi fila de crianças com suas mochilas coloridas indo para a escola e achei fofo. Vi muita gente usando e achei civilizado. Vi os patinetes disponíveis nas calçadas, em vários lugares da cidade e achei inovador. Achei coisa de cidade desenvolvida que busca soluções para a mobilidade urbana de forma mais sustentável. Melhor do que isso só se esses "brinquedos úteis" forem recarregados com energia limpa.

A segunda vez que vi os tais patinetes foi em cidades da Austrália. E a mesma coisa. Pessoas fazendo bom uso. Patinetes disponíveis nas calçadas sim. No canto. Sem atrapalhar os pedestres. Pessoas andando nas calçadas sim. Mas em velocidade compatível e pedestres educados sabendo que aquilo é uma solução útil e sabendo conviver com tal. Tipo, coisa simples, basta chegar um pouco para o lado e dar espaço para os patinetistas.

Fiquei com uma certa inveja dessas cidades e queria ver a minha cidade, o Rio de Janeiro, o  meu país, o Brasil, adotando a solução. Imaginei que podíamos ser tão civilizados quanto, tão educados quanto o resto do mundo, mesmo nossas calçadas não sendo as mesmas que a deles.

Aí para minha surpresa boa os patinetes chegaram por aqui. Verdes e amarelos. E começaram a ser usados. Bem utilizados por alguns e mal utilizados por outros.

Os que fazem mal uso largam os patinetes em qualquer lugar, como porta de lojas, no meio das calçadas, no espaço para cadeirantes descerem as calçadas, na entrada da escada onde tem fluxo intenso de pessoas. Coisas assim. Mas eu acredito que as pessoas podem se educar com o tempo. Sempre que encontro um patinete mal colocado, deixo a reclamação apenas na minha mente e parto para a ação: arrumo um lugar melhor para o tal brinquedo-veículo.

Tem também as pessoas que andam pelas calçadas em velocidade inadequada, tem aqueles que andam no meio dos carros e nas ruas sem respeitar as regras de trânsito. Falta de educação e respeito que eu ainda acredito que com o uso as pessoas possa adquirir.

Neste final de semana, no fim da tarde, início de noite, três amigas estavam passeando pela orla de Copacabana fechada aos carros. Aí elas resolvem brincar um pouco com os tais patinetes. Tá... elas sabem que eles devem ser utilizados como meios de transporte, são soluções para a mobilidade urbana e tal. Mas em um domingo de orla fechada ao trânsito e aberta ao lazer esses veículos podem também servir como meio de diversão. Amizades antigas têm esse poder de trazer a infância de volta.

 Aí chegam três meninos por volta dos seus 10-11 anos e pegam outros patinetes, sem dar carga iniciam a brincadeira. Mas eles jogam os patinetes no chão, batem uns nos outros. A pessoa aqui foi lá e falou com eles. Explicou que os patinetes são para todos e se brincarem desse jeito eles vão quebrar e nem eles, nem mais ninguém poderá usá-los mais. Os meninos não deram muita atenção e continuaram. Chegou um vendedor de mate e deu uma bronca nos meninos, eles continuaram. Não me dei por vencida e voltei a insistir para que usassem sem quebrar. Os meninos chegaram perto, encostaram os patinetes desligados e ficaram nos olhando e conversando. Com os olhos compridos no nosso patinete com carga. Nós, três adultas cheias de oportunidades brincado em frente de três meninos que aparentemente tiveram poucos brinquedos e pouca educação. Resolvi então emprestar o patinete para eles darem uma volta. Falei que deixaria um de cada vez dar a volta para eles verem como é legal brincar direito sem estragar. Prometi que após eles brincarem iríamos lanchar mate com biscoito. O primeiro menino pegou o patinete e deu no pé. Sumiu. Não voltou. Entrei no aplicativo, cancelei o passeio e pronto! Ele ficou com o patinete sem carga, sem poder brincar direito. Os outros dois sem poderem experimentar a diversão. Perdeu ele. Perderam os outros. Perdemos nós todos os dias pela falta de educação. Fiquei triste por eles, por nós, por mais uma vez constatar o quanto falta de educação para podermos ter o que o mundo já tem. Mas continuo acreditando que com o uso, com as oportunidades podemos aprender, podemos melhorar.

Acredito que podemos ser como o resto do mundo: patinetistas com educação e respeito ao outro que nos permitam fazer uso dos patinetes como o restante do mundo (no Chile tem sido o meio de transporte favorito, em Cingapura também funciona bem). Pedestres com e educação para dar espaço e entender que é uma alternativa necessária. Cidadãos que sabem cobrar condições de uso, como conserto das calçadas e legislação que regule e puna quem não cumpre. "Né" possível que nós brasileiros, o melhor futebol do mundo, o melhor Carnaval do mundo, vamos nos contentar em pagar esse mico e sermos os únicos que podem ter os tais patinetes porque não temos educação para isso.

Enquanto isso vou fazendo a minha parte. Vou usando quando preciso, brincando quando é oportuno, arrumando os patinetes mal localizados nas calçadas quando passo. E sim, se a situação de domingo se repetir eu empresto novamente o patinete. Afinal, sou brasileira e não desisto nunca, né não? 

Você pode me encontrar também

Facebook - Instagram - Twitter - Pinterest