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quarta-feira, 17 de junho de 2020
Feminices negadas
Acabei de tirar do forno um Bife Wellington e me sinto muito orgulhosa. Sentindo a satisfação de quem se superou. Conseguiu fazer algo em que desconfiava da sua própria habilidade.
Isso me faz pensar, olhar para os lados, voltar no tempo. Recordar a infância. Repassar rapidamente algumas fases da vida.
Olha pro lado e penso nas minhas amigas da minha faixa etária. Somo mulheres que de certa forma renegamos "mulherzices". Tipo cozinhar, bordar, costurar. Me lembro de algumas falas orgulhosas como: "na minha casa o fogão não faz calor", "eu não esquento a minha barriga no fogão".
Volto no tempo. E sim, eu não aprendi a cozinhar. Não aprendi a costurar. Não aprendi bordar, nem tricotar. Fui educada para estudar e ser independente. Como se essas atividades tidas como "coisas de mulher" fossem sinônimo de exploração feminina. Por outro lado aprendi a trocar pneu de carro para não depender de homem. Aprendi a trocar fusível e fazer rejunte.
Me lembro que por volta dos meus dez anos eu gostava de me arriscar na cozinha. Fazer um bolo, panquecas, crepes, bolinhas de queijo, doces, pastel. Me arriscava. O resultado era bom. Mas isso não era, digamos, valorizado. Era tipo do algo: ah, legal, mas você não precisa fazer isso. Pode ir ler um livro. Pode brincar de construir casas (eu adorava fazer casas de papelão, montava cidades inteiras).
Era mesmo como renegar as "feminices". Renegar como forma de luta. Assim segui minha vida de mulher sem muito interesse nessas atividades. Minha avó fazia tricô e croché. Peças lindas. Eu no fundo, no fundo até queria aprender com ela. Mas isso era coisa de avó, da época que mulheres ficavam em casa. Eu precisava estudar e me preparar para ser mulher independente. Como se uma coisa anulasse a outra. Cozinhar?! É básico, é fundamental. Isso qualquer um aprende (será?) e mulher que trabalha pode pedir comida em restaurantes. Costurar? Pra quê? E por aí foi... Segui. Sem me dar muito conta desse outro lado da moeda, até sem me dar conta que isso fazia parte da luta.
Voltei a me interessar por cozinhar já com as minhas filhas pequenas. Como uma atividade para fazermos juntas. Brincadeira na cozinha. Nesse momento comecei a resgatar esse interesse natural. Dessa vez sem preconceitos. Posso sim ser uma mulher independente, que trabalha fora, que se sustenta, e posso sim gostar de cozinhar.
Mas esse gap, essa rejeição praticamente intencional, me faz sentir como se eu não fosse fluente na língua da culinária. Por isso, muitas vezes, vejo uma receita, algo que exija mais técnicas e ingredientes, e penso logo que não sou capaz de executá-la. Fico achando que é coisa de restaurante, muito acima das minhas habilidades. Algo só para quem pratica naturalmente desde criancinha. E quando me arrisco, quando encaro o desafio, quando dá certo eu sinto essa satisfação, essa sensação de superação.
Fico satisfeita! Mas fico mais satisfeita ainda de ver que passamos dessa fase! Que podemos e devemos fazer as escolhas. Podemos ser e fazer o quisermos. Que o nosso lugar é onde quisermos estar.
Acredite, eu estou aprendendo a cozinhar agora, é bom pra saber nos virar e dá pra incrementar os pratos.
ResponderExcluirbig beijos
www.luluonthesky.com
OI Lulu,eu também ando arriscando mais nessa quarentena. É sim ótimo para nos virarmos e nos sentirmos capazes e independentes.
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CHris
Numa altura como esta há mais tempo para outras tarefas :)
ResponderExcluirBeijos. Boa noite.
Boa noite Cidália,
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Chris
Elogio e admiro que sabe e gosta de cozinhar. Eu sou mais de garfo e faca, lol
ResponderExcluir.
Um domingo feliz
Cumprimentos poéticos
Oi Ricardo, kkk. Eu também sou muito de garfo e faca. Adoro apreciar um bom prato preparado por alguém.
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Chris
Eu acho que nosso maior problema é pensar que para ser feminina só pode fazer isso ou aquilo. Cozinhar também nos faz independentes, pois não necessariamente seríamos "escravas do lar", podemos sim ser independentes e, ainda assim, querer cozinhar algo diferente e se orgulhar disso. Eu não sou um primor na cozinha, mas de vez em quando me arrisco e faço algumas coisas diferentes. E fico muito feliz quando meu namorado cozinha para mim também... A gente tem que fazer o que nos faz feliz. =)
ResponderExcluirBjks!
Mundinho da Hanna
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Oi Hanna, é isso mesmo, temos que fazer o que nos faz feliz e ter a liberdade dessa escolhas é que realmente é felicidade e o tal empoderamento.
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Chris
Post maravilhoso, Chris, de ponta a ponta, a começar pelo título, show!!
ResponderExcluiré isso, nossa função é ser feliz e não o que a sociedade deseja como se fossemos robozinhos todos iguais e configurados conforme os manipuladores da sociedade desejam.
Amei, abraço de novo e parabéns pelo ótimo texto!
OI Dalva, muito obrigada pelo carinho.
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Chris
Que texto inspirador! Também sou daqueles que acreditam que não existem atividades femininas ou masculinas.
ResponderExcluirBom fim de semana!
Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia
Oi Émerson, essa é uma das grandes besteiras que nos ensinam: que isso é coisa de homem e aquilo é coisa de mulher. Ainda bem que estamos mudando e melhorando nesse aspecto, apesar de ainda faltar muito o que evoluir.
Excluirbeijos
Chris
Muito obrigada.
ResponderExcluirbeijos
Chris