Seguindo o critério de buscar lugares ao ar livre, espaçosos e vazios para caminhar, resolvi fazer andando o percurso da Parque Nacional da Tijuca, da Estrada Dona Castorina.
São em torno de 7 km de estrada cercada de Mata Atlântica com vários pontos turísticos extraordinários do Rio de Janeiro, como a Mesa do Imperador, a Vista Chinesa e as cachoeiras do Horto.
Com a pandemia a estrada está fechada para carros, permitida apenas para prática de esportes. Como a pista é somente subidas e descidas poucas pessoas se arriscam a fazer o circuito a pé. O caminho tem sido mais utilizado por ciclistas em treino.
Eu já tinha feito esse caminho algumas diversas vezes, mas sempre de carro. Parava nos pontos turísticos e seguia. Fazer a pé é mais cansativo, é claro. Bem mais demorado, óbvio. Mas muito mais gratificante. Nossa, não tem nem comparação!
Chegamos cedo, bem cedo em um dia de sol, seguinte a um dia de chuva. Por isso a pista estava molhada, o clima úmido e até friozinho. Nos trechos da pista aquecidos pelo sol da manhã podíamos ver a água evaporando. O que deu um clima de mistério ao passeio. Imagina uma pista deserta, fechada pela floresta e com esse névoa em movimento...
Caminhamos com os instintos atentos, ouvindo e observando. Ouvimos um barulho de água aqui, outro ali. Abaixo da pista corre um rio e temos no entorno, mais para dentro da mata, algumas cachoeiras, como a Cachoeira da Imperatriz, por exemplo. Mas carioca tem a mania dizer que qualquer bica é cachoeira. Não pode ver uma queda d'água que já quer se molhar e dizer que tomou banho de cachoeira.
A estrada é cheia de paradas com bancos e algumas áreas para piquenique como a Mesa Redonda.
Logo 50 metros após a Mesa Redonda chegamos ao local onde fica a Mesa do Imperador que era utilizado por nobres e burgueses para almoços campestres e recebia a visita de D. Pedro II, nos seus passeios à floresta.
Dessa vez nem foquei na mesa em si. A atenção foi toda para a vista que temos dali.
A Mesa do Imperado é parada obrigatória para os visitantes que buscam uma bela paisagem da cidade. E que paisagem! Nesse dia, especialmente, o visual estava escandaloso. O mar estava muito azul.
A vista alcança a Lagoa, o Pão de Açúcar, a Enseada de Botafogo, as praias de Niterói. Nossa! Um escândalo!
Seguimos nosso caminho pela via em direção à Vista Chinesa. Além de bancos e área para piqueniques, encontramos também algumas fontes de água que chegam diretamente dos córregos da floresta. Infelizmente não tão bem preservados. Mas ainda assim de grande beleza.
A qualquer momento quando se abre uma brecha na mata podemos avistar o Cristo Redentor.
E de repente, depois de uma curva, lá está ela, a Vista Chinesa. Mas por que em pleno Rio de Janeiro temos um mirante, um ponto turístico com características arquitetônicas da China? Pois é em homenagem aos antigos colonos chineses. Exatamente ao que aqui chegaram na imigração chinesa ocorrida na primeira metade do século XIX. D.João VI queria incentivar o cultivo do chá no Brasil e, para isso, mandou buscar cerca de 300 chineses da colônia portuguesa de Macau. Os chineses foram trazidos entre 1812 e 1819, pelo Conde de Linhares. Estes imigrantes, que trouxeram mudas e sementes de chá, estabeleceram-se inicialmente nas encostas da mata dos fundos da região do Jardim Botânico. Ali chegaram a plantar seis mil pés de chá.
Dizem que no Brasil "Em se plantando tudo dá". Mas o chá não deu! Mais tarde, já em 1844, mais chineses foram trazidos ao Rio. Desta vez o objetivo era desenvolver a cultura do arroz. Mas, a arroz também não vingou em terras cariocas. Ou as terras não eram boas para chás e arroz, ou os chineses não eram bons plantadores.
A solução encontrada foi dar trabalho aos chineses na abertura do caminho que se transformou na Estrada Dona Castorina. Logo, nada mais justo do que uma homenagem a esses trabalhadores!
Assim a Vista Chinesa tem um quê especial por ser algo bem diferente na paisagem carioca.
Em tempos de normalidade, o local está sempre cheio de visitantes concorrendo por uma boa foto. O movimento de carros e motos também é considerável.
Eu sei que o motivo por encontrar a Vista Chinesa tão vazia não é nada bom. Mas ver o local com poucas pessoas e alguns macacos pregos me deu alegria e a sensação de que o esforço da caminhada foi recompensado.
E a vista lá da Vista Chinesa?! Sem palavras! O visitante consegue ver o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a Lagoa Rodrigo de Freitas com seu formato de coração e o litoral da Zona Sul e até a ponta da Praia de Itaipú em Niterói.
Seguindo nossa caminhada olha só quem nós encontramos?! Um bicho-preguiça lindo! Foi o meu presente do dia. Eu amo ver as preguiças em seus movimentos lentos, tranquilos e seguros. Gente, elas são muito fofas. Muito lindas. Uma alegria ver esse espetáculo da natureza.
As pernas podem até doer do esforço pela longa caminhada. mas as belezas constantes compensam cada passo.
Teve até um momento resgate. Retiramos a lagartixa da pista para não correr o risco de ser esmagada por uma roda de bicicleta, nem pisoteada por alguém que estivesse caminhando. A fofurinha foi devolvida para a mata. Espero que fique segura lá.
Mais um pouco e passamos em uma cachoeira de verdade. Essa fica na beira da estrada e está fechada para banho nessa fase de pandemia. Mesmo não podendo sentir o frescor da sua água, já é revigorante ouvir o barulho da queda. Afinal. é na queda que o rio ganha força e se torna cachoeira.
Que sejamos todos rios e que transformemos nossas quedas em cachoeiras.
Esse é o 8º post do projeto #100EM1 de 2021 que consiste em visitar 100 lugares no período de 1 ano e vi no blog Parafraseando com Vanessa. Achei, no início do ano, que o projeto seria uma ótima oportunidade para nos estimular a sair da rotina, buscar o novo, trazer aprendizados e reflexões. Porém o projeto foi completamente prejudicado pelo período que estamos vivendo.
Esse post faz parte do projeto/desafio BEDA 2021:
Também estão participando do BEDA 2021:
- Clau, do Mãe Literatura.
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