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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Engatada

Um ano e um mês atrás quando foi anunciado o isolamento eu comprei umas peças de madeira para pintar, alguns quatro livros para ler, fiz um lista de filmes para assistir, separei umas receitas de bolos e pães para fazer. Estava eu pronta para quinze dias de isolamento. Aliás, mais quinze dias já que eu tinha acabado de sair de um recolhimento de 15 dias por ter voltado de viagem. 

Com o meu kit em mãos me senti preparada para "tirar de letra" o recolhimento. Isolamento completo que se prolongou por quatro meses e exatos quatro dias, quando a médica liberou algumas saídas ao ar livre, para lugares abertos, em horários mais vazios, mantendo o distanciamento bem distante e até o isolamento mesmo. Assim fiz para o bem do meu corpo e da minha saúde mental. 

Ao longo desse tempo procurei um olhar positivo para as coisas, busquei variar o entretenimento disponível, mantive o contato virtual com as amigas. Tinha sempre a minha frente um horizonte com perspectiva de melhoras. Colocava para mim um prazo de três meses. Daqui a três meses a vacina sai. Daqui a três meses os números já estarão baixos. Aí eu fui.

Agora, em 17 de março, um mês atrás, quando completamos um ano dessa quarentena sem fim e o cenário estava pior. Sem perspectivas. Os números mais altos do que um ano atrás. Por mais que eu queria ser positiva, baqueei. Cansei das possibilidades que tenho ao alcance. 

Cansei de fazer bolo e pão. Eu quero comer bolo e pão em uma cafeteria gostosa, com o cheiro do café, o barulho das pessoas, a companhia de gente. 

Cansei de ver filmes em casa. Eu quero entrar na sala escura de um cinema, colocar um saco de pipoca no colo e me esquecer do mundo lá fora por duas horas. 

Cansei dos encontros virtuais. Não quero ouvir voz que sai do microfone. Quero ouvir voz que sai direto da boca e entra nos meus ouvidos. Não quero ver rostos através da tela que ver volume, textura, pele e cabelo frente à frente. Não quero ver o meu reflexo na tela. Quero ver o meu reflexo no olho do outro. 

Cansei das exposições virtuais. Quero andar e para frente a frente uma obra de arte. Ver a cor pelos meus olhos e não pelas lentes de uma filmadora. Quero sentir a emoção que a obra causa em mim. 

São tantos quereres... quero ter assunto. E quero ter assunto leve, divertido. Quero ter novidade. E quero novidade divertida. Continuo buscando essa vida interessante mesmo diante de tantos desinteresses. E hoje me peguei encantada com algo simples. Algo que se não fosse essa falta, talvez não me encantasse tanto. 

Sim, eu ia passar, achar esse gato que conheço desde bebê engraçadinho, ia dizer um oi pra ele e até coçar a cabeça e seguir o meu caminho cheio de tantos interesses. 


Mas hoje na falta das amigas para conversar, a cafeteria para tomar um café, do cinema para assistir, da livraria para entrar, de uma exposição para contemplar, me encantei com o gato. Me diverti com sua preguiça dentro da cesta, com o brilho do seu pelo ao sol, com o colorido das flores ao redor, com o seu charme ao rolar no chão enquanto eu fazia um carinho nele. 

Um momento simples que trouxe um respiro e um tempo de sanidade nessa rotina insana. Sempre podemos nos encantar e nos encontrar. 

Isso tudo para dizer que saí do isolamento na hora do almoço, correndo para comprar algo que precisava muito, me deparei com o gato, me perdi no tempo e voltei em cima da hora para a reunião com o tempo do almoço acabado e sem o que eu precisava comprar. Mas encantada ou engatada. 



Esse post faz parte do projeto/desafio BEDA 2021:

Também estão participando do BEDA 2021:
Clau, do Mãe Literatura.



Beda Abril 2021
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19 comentários:

  1. Chris,estamos todos assim, reclusos e cheios de vontades... A minha, não é de estar com amigos, ou amigas. É de estar com a família em liberdade, na natureza ou em casa.É de com eles, tomar um café, rir, enfim... Lindo dia! bjs, chica

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    1. Oi Chica, a vontade de estar com a família é a mais forte de todas.
      beijos
      Chris

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  2. Estamos em casa direto e também não vejo a hora de ter o período de tempo que vamos poder sair, passear e fazer as coisas com um pouquinho mais de liberdade.
    Beijos.



    https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/

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    1. Oi Vanessa, eu estou me permitindo (com a orientação médica, é claro) de dar umas voltas ao ar livre. Isso me faz muito bem. E eu estava ficando muito mal de estar totalmente confinada. Quando os números aumentam, eu fico totalmente isolada em casa. Mas agora me dei essa liberdade. Mas só em lugares bem vazios.
      beijos
      Chris

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  3. há um ano eu estava pensando como resolver a questão do isolamento do meu pai. ele sempre muito ativo, independente, teria que ficar em casa. e eu fiquei zero de trabalho até outubro, então há um ano só existia desespero de tudo. e logo perdi uma pessoa muito próxima. então não pensava em nada pra fazer. e sem dinheiro menos ainda. por sorte eu tinha comprado muitos livros na feira da usp em 2019, perdido a mão e exagerado. e me acompanharam em 2020, ainda tem uns pra ler dessa leva. esse ano passei a ter trabalho, muito trabalho, pq a lei aldir blanc foi liberada. então estou envolvida nisso. mas sair virou um martírio. todos nas ruas, muitos só pra passear, a maioria sem máscaras, me recolhi ainda mais. então, eu cometi um desatino e adotei mais um gato. agora me divirto tendo q administrar a adaptação deles. se cuide. beijos, pedrita

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  4. Olá Cris, achei interessante seu texto. O sentimento de querer liberdade é transversal. Sempre me encantei com as coisas simples, agora, mais ainda. O Brasil está péssimo em termos de pandemia, tenho lido, e de fato não deve estar sendo fácil o dia a dia! Um beijo grande, continue focando no nas coisas quotidianas, apurando seu olhar e outros sentidos na esperança que tudo isso passe logo! Bjs, boa semana!

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  5. Obrigada pela sua visita no meu cantinho :) Volte sempre!
    Nem vou comentar sobre a fraude que estamos a passar!
    A minha esperança é que em breve quase todos os médicos e todos os políticos serão condenados por crimes contra a humanidade!
    Bjs

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  6. Deixamos de ter una hábitos e vamos descobrindo outros que nem julgávamos ter... :)
    -
    Escondi os olhos em pranto...
    -
    Beijo e uma excelente tarde!

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    1. Oi Cidália,
      sim, tem sido um período de muitas descobertas sobre nós mesmos.
      beijos
      Chris

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  7. Eu sou suspeita pra falar eu digo que os bichinhos mudam nossa vida.
    Eu tenho duas cachorras e queria ter gato, mas minha mãe é alérgica e as cachorras odeiam gatos rs. Seria bem complicado.

    Beijos!
    Pam Lepletier

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  8. Oi Chris estamos todos assim. Mas acho que podemos sair e tomar todas as medidas e cuidados necessários, se não a depressão bate a nossa porta.

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    1. Oi Luiz, pois é. Tenho escolhido bem os riscos que quero correr, me cuidado muito e saindo quando sinto que a minha saúde mental está precisando.
      beijos
      Chris

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  9. Gatinho lindo. Eu saio algumas vezes, mas sempre com todos os cuidados. Precisamos pegar um ar às vezes.

    www.vivendosentimentos.com.br

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    1. OI Monique,
      precisamos sim pegar um ar e precisamos de novos ares.
      beijos
      Chris

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  10. Olá Cris,
    Partilho do mesmo sentimento que você. Estou cansada de ficar presa em casa e parecer uma louca com medidas de prevenção e higienização em todos os lugares. Parece um pesadelo que não vai acabar nunca.
    Estou esgotada física e psicologicamente.

    Big Beijos,
    Lulu on the sky

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    1. Oi Lulu, estamos todos assim. Pelo menos todos que estão se importando e se cuidando.
      beijos
      Chris

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  11. Acredito que isto irá passar, aqui em Portugal estevemos com valores muito altos, creio que a 3ª vaga começou aqui e no inicio do ano as coisas estavam muito más.
    Felizmente Já estamos no desconfinamento, vamos ver se é desta. Beijinhos e muita coragem para continuar
    Coisas de Feltro

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    1. Espero sinceramente que seja desta vez que Portugal se desconfine de vez e fique bem. Assim como os demais países também.
      beijos
      Chris

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  12. Não me podia identificar mais com as suas palavras, Chris!
    Eu abdiquei de imensa coisa, desde que começou a pandemia, para não arriscar a saúde da minha mãe... por isso sei dar valor.
    Aqui em Portugal desconfinámos... mas já estou a ver muita gente comportar-se irresponsavelmente. Em breve voltaremos para casa, pois ainda há muita gente por vacinar. Talvez no Natal, tudo possa ser sentido mais perto da normalidade... mas para este nosso Verão, por cá... não creio. Acho prematuro demais... Por todo o lado ainda há muita gente por vacinar... temos de ser realistas... e entender, que isto ainda vai demorar um pouco mais. Vacinar o mundo... leva algum tempo... e principalmente quando algumas vacinas estão envolvidas em polémicas... Mas já vai havendo muitas vacinas... e isso, dá-nos confiança e esperança no futuro... e em conseguir recuperar a nossa vida em suspenso... mais cedo ou mais tarde.
    Beijinhos! Votos de tudo a correr pelo melhor, por aí!
    Ana

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