segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Tudo por Vanderson

Sexta-feira no Rio de Janeiro, horário de saída do expediente, cariocada louca para "sextar" com vontade. Neste cenário você é uma pessoa que precisa pegar um táxi, um Uber, um 99, qualquer coisa para chegar em tempo em um compromisso. O táxi não passa, a pessoa chama o Uber, depois de 6 minutos esperando o Uber o táxi passa, depois de 10 minutos esperando o UBER este cancela a corrida, aí o táxi não passa, o outro concorrente está com preço nas alturas por causa do horário.Tipo assim. Normalidades de uma sexta-feira qualquer após o expediente na cidade maravilhosa com vários pontos para se assistir ao pôr do sol em pleno horário de verão, outros muito bares na calçada para um cerveja gelada e muito mais prometendo.

Acrescente a esse cenário, nuvens pretas carregadas se aproximando rapidamente, raios, trovões, chuva louca para "sextar" com vontade (afinal essa chuva é carioca). É claro que ela vai despencar com precisão, pontualmente na hora em que os cariocas ávidos por um sexta-feira sairiam do trabalho.

Acrescente a esse cenário uma pessoa que tem uma consulta marcada e que não pode perder. Não que ela seja do tipo que não cancela consultas para ir a um bom encontro com as amigas. Mas essa ela não pode perder, adiar, nem cancelar. Tem que ir. 

Já prevendo a dificuldade de conseguir uma condução, mas como essa pessoa tem uma boa relação com São Longuinho, ela faz o seu pedido básico: São Longuinho, esquece a chuva um instantinho, deixa o céu de ladinho, foca na pessoa aqui que está te prometendo três selinhos se ela achar um "taxinho". Olha só São Longuinho, "prestatenção", fica ligado, vou pedir o táxi agora. 

E não é que Vanderson está disponível e exatamente embaixo do prédio em que a pessoa se encontra?! São Longuinho cê é demais! A pessoa se despede com um "tchau povo, bom final de semana, tô indo na chuva "meRmo", e já sai pagando a sua promessa pra São Longuinho no corredor da empresa. Um passinho, um pulinho. 

Desce o elevador e assim que entra no corredor de saída já avista o amarelinho com Vanderson dentro na porta. Tranquilidade no coração. 

Assim que a pessoa está passando na catraca o carro de Vanderson começa a se movimentar lentamente para frente. Cabô tranquilidade! "Vanderson, me espera. Já estou aqui!", grita a pessoa desesperada.

Eis que a pessoa olha para a esquerda e identifica o motivo do deslocamento de Vanderson. Entre muitos trabalhadores que já deixaram suas mesas encolhidos embaixo de seus guarda-chuvas embaixo da marquise (é, pra carioca assim como biscoito O Globo foi feito para se comer na praia, guarda-chuva foi feito para ser usado embaixo da marquise), uma mulher sem medo de estragar a escova do final de semana, se lança no aguaceiro balançando as madeixas respingadas e fazendo com o dedo fino e longo aquele sinal obsceno de vem aqui meu taxista.

É nessa hora que a pessoa aquariana que se orgulha de não ser ciumenta, que está mais desalinhada do que gato sem bigode (esse é o motivo da consulta mesmo em dia de dilúvio carioca), se sente dominada por um sentimento de posse e se lança em performance atlética, pulando os degraus molhados e escorregadios da escada gritando: "Nããão Vaaaandersoooon, eu estou aqui! Vaaaandersoooon, você é meu! Fui eu que te chamei com a ajuda de São Longuinho. Você é meu, Vanderson!"

Neste momento as pessoas encolhidas embaixo de seus guarda-chuvas embaixo da marquise já começam a se esticar, se alongarem, procurarem um posição melhor para assistirem melhor a luta de mulheres na poça que está prestes a ter início. Poças essas que a dona do táxi, do taxista, de tudo, segue pulando e gritando: "Vanderson, você é meu! Pergunte pra São Longuinho!"
É então que o olhar da sedutora de taxista alheio em horário de rush em dia de chuva de verão no Rio de Janeiro encontra-se com o fervor do olhar da aquariana tranquilona nada ciumenta dominada pelo sentimento de posse e pelo pânico de ver o seu taxista escorrendo pelas mãos mais rapidamente do que a água da chuva escorre por seus cabelos. 

É então que a sedutora lembra-se dos seus cabelos na chuva, da escova do final de semana sendo desfeita, larga a maçaneta do táxi e volta para a proteção da marquise. 

A pessoa entra em seu táxi e Vanderson está rindo e diz aqui pelo Waze serei seu por 37 minutos. A sexta-feira de chuva de verão em horário de rush segue seu rumo sem briga de mulheres na poça por um taxista mas mostrando a sua força: é capaz de transformar uma aquariana altruísta em uma taurina possessiva.




Você pode me encontrar também
A Autora:
Chris Ferreira

Chris Ferreira

Eu, uma mãe integral mesmo trabalhando em horário comercial, que procura equilibrar os diferentes papéis da mulher com prioridades e alegria.

Acredito que podemos levar a vida a sério, mas de forma divertida e é isto que eu tento mostrar no blog.

Google +

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Pin It button on image hover
▲ Topo