quinta-feira, 30 de julho de 2020

Baião de Dois Vegano em duas versões


Frio, chuva, dia pedindo aconchego. Se tem uma comida aconchegante na culinária brasileira é o Baião de Dois. Comida que lembra ritmo e paixão. Abraço, mistura, calor.

Esse prato de origem nordestina vem da mistura brasileiríssima: arroz e feijão.

O baião é uma dança típica do nordeste. Um ritmo que se dança agarradinho, coladinho, com muito rebolado. E é assim que o arroz e o feijão, devem ficar no Baião de Dois: misturados como na dança, como um casal apaixonado, que se completa. 

O prato tradicional, raiz, é feito com arroz branco e feijão de corda, carne seca, linguiça, queijo de coalho e manteiga de garrafa. Mas permite várias combinações e adaptações. 

Com a Sofia sendo vegana temos feito essa versão aqui em casa: com arroz branco e feijão vermelho.


O que utilizamos:

- 2 xícaras de arroz branco;
- 1 xícara de feijão vermelho;
- 1 linguiça de soja (150 g) - uso a marca Goshen;
-  150 g de tofu defumado;
- 1/2 pimentão amarelo;
- 1/2 pimentão verde;
- 1 colher de sopa de manteiga vegana (ou azeite);
- 1 cebola picada;
- 4 dentes de alho;
- salsa, cominho, pimenta do reino, sal à gosto;
- pimenta biquinho.


Como fizemos:

Lavamos bem os feijões e deixamos de molho por doze horas para facilitar o cozimento. Cozinhamos na água com sal até ficar no ponto. Gostamos dos grãos mais durinho. Assim que está cozido retiramos a água.

Lavamos o arroz, refogamos em parte da cebola no azeite com dois dentes de alho, adicionamos duas xícaras de água de deixamos cozinhar.

Em uma frigideira alta colocamos refogamos o restante da cebola com os dentes de alho em uma colher de manteiga vegana. Acrescentamos a linguiça em fatias e deixamos selar e dourar. Colocamos o tofu cortado em quadradinhos. Adicionamos os pimentões picados, misturamos, colocamos o arroz cozido, os grãos de feijão cozido, os temperos e misturamos tudo. Finalizamos com a pimenta biquinho para enfeitar. 



Aí é só servir e comer quentinho. Eu gosto de colocar por cima do Baião de Dois uma porção generosa de couve cortada fininha e assada com alho e semente de abóbora.

Como diz a música "Baião de Dois" de Luiz Gonzaça

"...
Vô juntá feijão de corda
Numa panela de arroz
Abdom vai já pra sala
Que hoje têm baião de dois

Ai, ai ai, ai baião que bom tu sois
Se o baião é bom sozinho
Que dirá baião de dois
..."

Outra versão de muito sucesso aqui em casa é o Baião de Dois de arroz integral e feijão fradinho. A receita e medidas são exatamente as mesmas. Altera apenas o tipo do arroz e do feijão. 
 



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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Livro "A padaria dos finais felizes"

Não estou entrando em lugares fechados ainda. Ou não deveria estar, mas fraquejei. Passei pela calçada onde fica a minha livraria preferida. A porta estava entreaberta, olhei para dentro e vi que estavam se preparando para abrir, limpando e higienizando tudo. Reabriria em apenas dez minutos. Não resisti. Esperei. Entrei. Fui a primeira pessoa a entrar nessa reabertura. Peguei alguns livros que me chamaram a atenção e estavam logo no primeiro balcão. Paguei e voltei feliz com a minha aventura e aquisições.

Entre os livros adquiridos intuitivamente, na pressa, na correria de quem estava fazendo algo errado e precisa terminar logo antes de ser "pega", estava "A padaria dos finas felizes", de Jenny Colgan. Gostei da capa, gosto de padaria e de finais felizes. Somente quando cheguei em casa, observando melhor o livro foi que me dei conta que faz parte da trilogia de outro livro que eu queria ler "A adorável loja de chocolate de Paris".

Comecei a leitura imediatamente. Foi o meu primeiro contato com a escrita de Jenny Colgan" e gostei da narrativa leve e descontraída. 



O chick-lit de Jenny Colgan tem uma história que já pode ter sido vista por aí em livros e filmes, mas é fofa, envolvente, inspiradora.
Polly Waterford, uma mulher na casa dos 30 anos, investiu todo o seu dinheiro e tempo em seu antigo relacionamento a ponto de vida pessoal e profissional se tornarem uma só. Quando o negócio faliu, o relacionamento ruiu. Polly viu sua vida desmoronando em todos os aspectos. Se sentindo em um labirinto, a única saída financeiramente viável que encontra é mudar de cidade alugando um apartamento caindo aos pedaços.

Assim Polly vai morar na ilha de Polbearne, um lugar que em outras condições seria inconcebível habitar, viver, morar. Mas, a princípio, seria uma situação provisória, apenas o tempo suficiente para Polly se reestruturar, encontrar um pouco de paz e equilíbrio, fortalecer.

“Só  aproveitando a sensação agradável de estar centrada no agora, em seu próprio ser, sem ter que se preocupar com o futuro nem sonhar com o passado, sem se distrair com tarefas mundanas: estava presente, existindo e sentindo."

Sozinha nesse lugar cheio de desafios Polly precisa criar novos laços e se autoafirmar. Para isso faz uso do seu hobby, paixão desde sempre: fazer pães.


De repente, Polly sentiu algo. Conforme tacava, empurrava e sovava a massa, era como se a energia ruim estivesse deixando seu corpo.

Pelo cheiro, pelo sabor, pelo calor e aconchego da iguaria ela conquista afetos e também um desafeto: a dona da única padaria da ilha e também sua proprietária. Na improvável ilha Polly finalmente se abre de novo para a felicidade e o amor, mas nem tudo são flores. Polly tem que enfrentar a desavença com a senhora Gillian Manse e a resistência de alguns moradores à presença de uma pessoa de fora, que não cresceu em Mount Polbearne.


De repente, ali, na pequena padaria à beira-mar, começou a sentir que nada era impossível. No fundo do coração.



Mesmo sendo uma escrita fácil e para entretenimento (o livro cumpre bem esse papel), traz pontos interessantes como a crise de certas profissões devido a inclusão digital e a necessidade de readaptação rápida para continuar competitivo no mercado (foi isso que levou o negócio do ex-namorado de Polly à falência). O surgimento de novas profissões e ter o empreendedorismo com uma opção viável, não apenas o mercado de trabalho tradicional. 

Outros aspectos bem positivos e interessantes do livro são: o cenário e os pães.

Eu sou dessas que quando leio um livro gosto de me transportar para o cenário, ouço as músicas citadas (ouvi e dancei com "Praise You"na cena da festa), pesquiso no mapa os lugares citados, faço os trajetos e tal. Então descobri que o cenário fictício de Polbearne é inspirado em uma das atrações mais icônicas da Cornuália: o monte St Michael. Claro que já fiquei sonhando com uma viagem pela região.

E os pães? As narrativas dos momentos em que Polly está fazendo pães e experimentando receitas são literalmente deliciosas. Sério eu sentia o aroma de pão no forno (tive que ir para a cozinha fazer outro pão de canela. Polly faz roscas de canela), senti o sabor e a crocâcia do sourdough (corri na padaria para comprar um e acompanhar a leitura regado com azeite, sal rosa e alecrim), estou desejando até hoje um pão de mel.

Enfim, a trama de "A Padaria dos Finais Felizes" é bem previsível: uma mulher que tem a vida desestruturada justamente na fase que deveria estar estabelecida, muda de cidade em busca de um caminho e se contra consigo mesma e com o amor. Porém é divertido acompanhar as desventuras da mulher corajosa que, entre dúvidas e inseguranças, se supera a cada dia e dá a volta por cima superando adversidades. Mostra que mudar o rumo pode ser muito positivo.  E é uma leitura que nos estimula a saborear e viajar enquanto lemos. Ah, o livro tem várias receitas no final, como a rosca de canela entre outras.

Sinopse: "Um balneário tranquilo, uma loja abandonada, um apartamento pequeno. É isso que espera Polly Waterford quando ela chega à Cornualha, na Inglaterra, fugindo de um relacionamento tóxico.
Para manter os pensamentos longe dos problemas, Polly se dedica a seu passatempo favorito: fazer pão. Enquanto amassa, estica e esmurra a massa, extravasa todas as emoções e prepara fornadas cada vez mais gostosas. Assim, o hobby se transforma em paixão e logo ela começa a operar sua magia usando frutos secos, sementes, chocolate e o mel local, cortesia de um lindo e charmoso apicultor. 
A Padaria dos Finais Felizes é a emocionante e bem-humorada história de uma mulher que aprende que tanto a felicidade quanto um delicioso pão quentinho podem ser encontrados em qualquer lugar.".



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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Flores no Caminho


Eu gosto de colecionar pequenas alegrias, não gosto de ficar, nem focar nas reclamações, porém confesso que tem sido difícil depois de tanto em que o medo e a saudade andam juntos competindo pela intensidade. Um misto louco de emoções difíceis de definir.

Uma das minhas grandes saudades foi de ver flores. Senti e sinto falta do colorido das flores. Me peguei me imaginando, com desejo mesmo, de estar passeando por um jardim cheio de canteiros floridos (falei isso no post "Paris - Jardin des Rosiers Joseph Migneret, um oásis de lembranças"). 

Agora que estamos nessa fase de flexibilização, apesar de ser uma liberação que não me dá segurança nem conforto, segui a orientação e liberação da minha médica para caminhar ou pedalar ao ar livre em locais e horários vazios seguindo todo o protocolo de segurança, higienização e distanciamento social.

No meu primeiro passeio nessa liberdade condicional peguei a minha bicicleta e pedalei no Aterro do Flamengo.

Nesse exercício cotidiano pra manter a vibração direcionei o meu olhar não para as pedras no caminho que podiam fazer a minha bike trepidar, mas para as flores que encantariam o meu olhar.



Uma brisa de ar fresco que mesmo impedida de entrar pelo meu nariz pela máscara de proteção atingiu o meu corpo por outros sentidos.


Os espinhos podem estar por aí, mas o mundo é de diversidades e esses mesmo espinhos servem de suporte e apoio para as flores crescerem. Na ambiguidade de sentimentos da força e delicadeza andam juntos.


Uma explosão sensorial em cores, formas e movimentos, reenergiza.


Apenas um peque ajuste no ângulo nos possibilita pequenas sutilizas que inspiram, alegram, dão um tom de novidade.


Um vento que carrega uma flor da árvore e a deixa ali para percebermos a delicadeza dos momentos. Nada é só bom ou ruim.



O contraste das cores despertam e confortam. Mudam o cenário diariamente, mostram que a vida é movimento e soam como uma promessa maravilhosa. Elas vão despencar, vão cair no chão, no solo, na grama. Mas vão reflorir.




Uma pedalada ao sol, ao vento, na beira da baía, sobre a terra. Fogo, ar, água e terra, os quatro elementos mostrando que o mundo é um lugar de diversidadede mudanças, de surpresasde altos e baixos, de adaptação.  Que pode ser simples colecionar as pequenas alegrias, basta focar o olhar.


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domingo, 26 de julho de 2020

A Semana 29 de 2020 - Décima Nona Semana de Quarentena


Fiquei meio cansada de tudo e de nada. Com vontade de tudo que não sei o quê. Preguiça e inquietação. Me sentindo sem assunto, com o mesmo assunto, ou muito assunto do mesmo. Não sabia se era desânimo e eu deveria me forçar, me estimular, ou ser era uma necessidade real de me dar um tempo. Resolvi me dar um tempo e desfrutar do desânimo, se fosse o caso. Com isso acabei não postando nas duas últimas semanas. Pulei duas postagens da semana. Mas ainda quero fazê-las de forma retroativa. 

Estamos na fase de flexibilização. Uma flexibilização que eu não confio muito. Fiz um passeio para veras belezas do Rio e desfrutar o dia lindo da janela do carro. 


Maratonei a série mexicana "Desejo Sombrio", na Netflix. São 18 episódios de aproximadamente 30 minutos com sexo, traição, suspense e crimes. Ao final de cada episódio aquela curiosidade que desperta o gostinho de quero mais.

A Série conta a história de Alma Solares, uma prestigiada advogada e professora universitária, mãe de uma universitária e casada com um juiz renomado. Boa mãe, boa esposa, boa profissional e dona de casa. Alma vai passar o final de semana dando suporte a melhor amiga, Brenda, que acabou de se divorciar. Brenda com a desculpa de afogar as mágoas leva alma a uma balada. Na festa Alma conhece Dario Guerra, um jovem misterioso e envolvente de 23 anos. O desejo de se sentir apenas mulher esquecendo todo o peso e atribuições dos demais papeis leva Alma a uma escapada com Dario. Essa noite de desvio traz consequências. 




Depois de quatro meses e quatro dias em home office e isolamento social, apesar de ser o primeiro dia das férias, precisei ir ao escritório. Apenas eu e um outro funcionário para realizarmos uma tarefa de duas horas. A visita ao escritório se tornou praticamente um passeio turístico com reflexões que contei no post "Férias em Outros Tempos".


Assisti a comédia francesa "MILF". O termo MILF forte no mundo pornográfico, pode ser traduzida carinhosamente como “mães que gostaríamos de transar”. A ideia da expressão é ter um foo positivo de aumentar a autoestima de mulheres com mais de 40 anos em contrapartida com o antigo termo papa anjo. Mas eu ainda acho que tem uma conotação machista. Conotação essa que passou de leve pelo filme. Na verdade a comédia tratou de forma bem natural a relação entre as diferenças de idades mostrando que as mulheres mais velhas fizeram uma escolha em se divertir e envolver com o garotões sarados. Trata questão do preconceito em relação a mulheres mais velhas com homens mais novos de forma leve e divertida. Um bom passatempo.

Sinopse: "Três amigas na casa dos 40 anos estão insatisfeitas com suas vidas enquanto tentam lidar com as dores do coração. Então o trio decide se aventurar no sul da França, onde acabam se envolvendo com homens mais jovens.".



Aproveitando as minhas férias em casa e por orientação da minha médica fui pedalar devidamente protegida com máscara e buscando um horário mais vazio.  Que sensação boa de liberdade! Pedalar, sentir o frescor do vento, o calor do sol. Parei em uma parte isolada, me sentei na grama, li algumas páginas, contemplei o visual. O que me chamou a atenção para parar nesse ponto foi a flor caída na grama. Depois percebi que era exatamente da cor da capa do livro que eu estava lendo.


Assisti ao filme "Maudie: Sua Vida e Sua Arte". Lindo, emocionante, impactante. Vale a pena conhecer um pouco da trajetória dessa artista popular canadense, mulher inteligente, que soube se autoarfirmar diante da deficiência e viveu humildemente na Nova Escócia.

Sinopse: “Maud Lewis sofre de artrite reumatoide e convive diuturnamente com a desconfiança de pessoas que a consideram incapaz. Mas existe nela um esplêndido dom artístico, cujo desejo de expressar a fará deixar a família para trás e procurar novos ares. Em seu caminho, aparece um amor profundo por um peixeiro rude da cidade, Everett, que, a princípio, contrata-a com empregada doméstica. Maudie conta a história luminosa do sucesso e reconhecimento de uma artista popular a despeito da dor e do preconceito.”


Permanecer na areia da praia ainda não está liberado, porém fui a uma praia distante e cheguei bem cedo. Pisei na areia, senti o sol da manhã na pele e dei um mergulho. Maravilhosa a sensação da água salgada envolvendo o corpo. Sensacional a sensação de tranquilidade da praia vazia. Bem que dizem que "Não é água com açúcar que acalma, é água com sal.".


Assisti a minissérie alemã "Segredos de Natal". Sugestão do marido, uma grata surpresa. Apesar de curta a série é bastante envolvente, trata questões familiares e traz boas reflexões sobre como influenciamos e somos influenciados dentro da família.

Sinopse: "Uma reunião de Natal faz uma viagem ao passado nesta série dividida em três partes , que explora as complexidades da história de uma família."


Seguindo a orientação de me exercitar em locais de menos movimento e aproveitando a liberação mesmo com toda a minha desconfiança fui pedalar novamente. Dessa vez optei pelo fim da tarde e pude contemplar o anúncio do fim do dia, do início da noite. 





Este post faz parte da BC A Semana que tinha sido substituída pela BC #ReolharAVida em 2019 que veio substituir a BC #52SemanasDeGratidão que em 2017 substituiu a BC A Semana que por sua vez já tinha substituído a BC Pequenas Felicidades.

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sábado, 25 de julho de 2020

Férias em Outros Tempos


É o tal do novo normal. Outros tempos que se prolongam. E me deparei cara a cara com esse outros tempos. 

Entrei de férias e não viajei. Entrei de férias empurrada, forçada, obrigada pelas leis trabalhistas já que venceria o meu segundo período. Em outros tempos tão próximos no passados e tão sem previsão no futuro eu estaria saltitante e embarcando de mala ou mochila para algum lugar. 

No primeiro dia das minhas férias eu precisaria ir ao escritório fazer a troca do meu equipamento. Tinha a opção de deixar para depois ou de não considerar esse dia dentro das férias e acrescentar um dia ao meu retorno. Mas eu escolhi ir ao escritório. Depois de exatos quatro meses e quatro dias em home office, saindo para praticamente nada, fazendo apenas alguns poucos passeios dentro do carro, ir ao local de trabalho se tornou uma aventura. Um passeio turístico de férias. 

A vista é realmente linda e alcança diversos pontos turísticos do Rio. Estar frente a frente com a Catedral e o Pão de Açúcar encheu meus olhos de doçura. 



O badalar do sino da igreja anunciado o meio do dia pulsou no peito. Contemplar o Cristo Redentor, nossa maravilha do mundo moderno, sobre as construções da cidade me fez sentir grata.


A vista 360º do prédio me encantou mais uma vez. Me encantou com o olhar de quem não vai vê-la novamente no dia seguinte, apesar de saber verá novamente em um futuro sem data marcada. Com o olhar de quem vai sentir saudade.

Olhar ao fundo a Serra dos Órgão e ver o Dedo de Deus apontando para o alto me deu esperança de estarmos apontando para a direção a um ponto final à vista, mesmo ainda não visto. 


Observar a avenida lá embaixo praticamente sem carros me causou estranheza, me fez lembrar dos dias de trânsito intenso e movimento, mas me desejar mais calmaria (nesse aspecto) para o futuro que ando contando os dias para que chegue logo.


Foram apenas duas horas dos meus quinze dias de férias que "turistei" no escritório. Realmente outros tempos. Nunca que eu imaginaria que ir ao trabalho nas férias seria a minha grande atração turística. Não vi normalidade nesse novo normal, mas agradeci por ter a oportunidade de trabalhar em um local com essa vista, essa estrutura, nessa cidade e que ainda me proporciona o home office e férias. 


Como continuo evitando o uso de transporte público, as minhas filhas foram me buscar nas minhas férias trabalhistas. Primeira vez que a mais nova saiu de casa nesse período de quatro meses e quatro dias. Aproveitamos para fazer um passeio de carro contemplando a orla do Rio. Mais do que do Leme ao Pontal. Do Aterro do Flamengo até Grumari. O Rio de céu azul, mar com água azul esverdeada clarríssima enquadrados pela janela do carro. Um dia de verão passando no nosso inverno.

Poder olhar o mar de perto, sair do carro, sentir o vento, a maresia, ouvir o barulho das ondas traz uma sensação de liberdade tão normal nos tempos do não tão antigo normal. Me peguei cantarolando a música "Te Ter", do Skank. O trecho:

"Te ver e não te querer
É improvável, é impossível".


Olhar esse mar, essa praia vazia e não poder mergulhar "
"É como esperar o prato
E não salivar
Sentir apertar o sapato
E não descalçar"


Seguimos nosso passeio de volta pela orla. Fizemos mais uma parada de liberdade para desenquadramos, ou melhor enquadramos em uma grande angular, a vista dessa cidade maravilhosa. 

Paramos nas pedras sobre a Praia do Secreto. Uma vista ampla e bem definida (diferente da visão que temos do futuro nesse momento): Praia do Secreto abaixo, Praia da Macumba, Pedra do Pontal e Pedra da Gávea ao fundo. 


Um desvio no caminho. Fizemos uma quebrada na rota pela orla e subimos a Estrada do Joá com a Pedra da Gávea à esquerda nos convidando a povoar nossos sonhos com dias em que novamente poderemos agendar, programar, marcar datas. Dias, datas, comemorações, viagens, encontros que por enquanto mantemos em suspenso. 

Mirante vazio! Vamos contemplar o horizonte! Temos um horizonte a nossa frente. Temos uma direção a seguir. 


Esses dias esquisitos que por um lado me geram ansiedade pela incerteza, pelos novos medos que estou aprendendo a lidar (eu que me achava uma pessoa de poucos medos), pela calma que sinto que estou perdendo pelo prolongar desse novo normal que não se concretiza; por outro lado me alegra pela tranquilidade, pelo silêncio, pela calmaria.


Ficamos ali alongando os pensamentos por um tempo. Pouco tempo. Até chegar outra família. Tivemos que deixar a proximidade com a natureza para manter o distanciamento social. 

Um frescor de liberdade nesses outros tempos, nesse novo normal. A sensação de liberdade sim, mesmo que uma liberdade condicional. 

Sigo com saudades dos outros tempos, vivendo esses outros tempos que se prolongam, aguardando os outros tempos pós novo normal quando a situação estará acomodada novamente e as comemorações, festas, férias, possa ser agendas no calendário.  


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sexta-feira, 24 de julho de 2020

Série "Segredos de Natal"

Quando o meu marido me chamou para assistir a minissérie "Segredos de Natal" confesso que achei meio fora de hora. Sei lá, eu tenho essa "nóia" de só algo com temas de natalinos no período dos festejos de final de ano. Mas quando ele me falou que era uma minissérie alemã de apenas três episódios eu mudei de ideia e me interessei imediatamente.



A chamada da Netflix diz: "Uma reunião de Natal faz uma viagem ao passado nesta série dividida em três partes , que explora as complexidades da história de uma família.".

A série apesar de curta tem um enredo denso que traz várias reflexões sobre as relações familiares, no quanto as atitudes de uma geração pode impactar no rumo da vida e das escolhas das demais.

A história passa pela força das mulheres da família desde Alma que chega fugida na Alemanha com a filha Eva e precisa criar a filha sozinha em uma casa meio abandonada em uma praia praticamente deserta.

Eva cresce nessa casa isolada no litoral da Alemanha, forma sua família, cuida da mãe e nesse período chega Ljubi, aparentemente também refugiada, para ajudar nos afazeres da casa. No cenário de submissão de Eva ao marido abusivo e "folgado", cresce Sonja.

Sonja por sua vez toma rumos na vida bem diferentes das escolhas da mãe. Sonja quer aventura, é inquieta, hippie, revolucionária. Por causa desse temperamento, Eva acaba criando Vivi e Lara, as filhas de Sonja.

É no Natal que Lara e Vivi já adultas sempre retornam a casa na praia para reencontrar Eva. Por isso o nome do primeiro episódio é "De volta à casa de vovó". Nesse reencontro das três gerações (Eva, Sonja, Vivi e Lara) é que as mágoas e feridas do passado começam a vir à tona intercalando os diálogos atuais com cenas em flashback.

No segundo e terceiro episódios que se chamam "O Segredo de Sonja" e o "Segredo de Eva" é que vamos entendendo os fatos, revendo as personalidades, conhecendo as atitudes que influenciam nas atitudes das outras.

Uma série rápida, emocionante, com reviravoltas, dramas, e que aborda temas bem atuais como alcoolismo, gravidez na adolescência, opções sexuais, escolhas, relacionamentos disfuncionais, submissão, segredos, influências familiares.

Histórias de mulheres fortes que encaram os desafios de ser mulher, criar mulheres, se relacionar com elas e com si mesma.

A série mostra muito bem como as atitudes dentro dos laços familiares podem influenciar uns aos outros, criar mágoas e gerar julgamentos. Mostra também como o diálogo é importante para não arrastar fantasmas do passado para o futuro. E o quanto o julgamento pode ser exatamente nas atitudes que espelhamos e fazemos igual.

Enfim, a série trata assuntos delicados de forma envolvente e que nos faz refletir e pensar nas nossas próprias atitudes dentro da família. Será que "condenamos" nos nossos pais justamente os mesmos comportamentos e características que temos? Será que estamos gerando mágoas em quem amamos e criando lacunas ao invés de proximidade? Estamos dialogando o suficiente? Estamos ficando em silêncio para não desenterrar mágoas do passado?

Vale a pena descobrir os segredos de Natal dessas mulheres fortes na série peculiar. Já adianto que o final é surpreendente.




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quinta-feira, 23 de julho de 2020

Filme "Maudie: Sua Vida e Sua Arte"


As cinebiografias têm o efeito de despertar o meu interesse. Quando a história baseada em fatos reais é sobre algum ou alguma artista que eu não conheço o interesse é potencializado pela curiosidade. Sempre entendo como uma ótima oportunidade para conhecer uma nova arte de um artista.

Assim que vi a chamada do filme "Maudie: Sua Vida e Sua Arte" eu me lembrei do filme "Grandes Olhos" e o prazer que foi para mim conhecer sobre a história de vida da pintora Margaret Keane.

Sim, conhecer um pouco da história de vida da pintora popular canedense Maud Lewis também me proporcionaria bom entretenimento aliado com informação, assunto e aprendizado. Apertei o play.



A atriz Sally Hawkins (A Forma da Água) é quem dá vida à inteligente e sensível Maudie. A artista popular canedense que teve quadros comprados até pelo, na época presidente dos EUA, Nixon não teve uma vida fácil, nem de glamour.

Sofreu de artrite reumatoide juvenil o que fez com que fosse considerada "esquisita" e tratada como incapaz pela própria família. Porém Maud tinha sensibilidade, perspicácia, inteligência e dom naturais. 

A artista viveu de 1903 a 1970 na Nova Escócia, porém o longa da diretora irlandesa Aisling Walsh foca no período relacionamento de Maud com Everett. Essa foi a fase de revelação de Maud. 

Maud, a "esquisita", casou com e Everett Lewis, o "brutamonte grosseirão". O relacionamento surgiu meio por acaso. Mesmo com a casca bruta do solitário Everett, Maud conseguiu enxergar a bondade no coração do garoto abandonado pelos pais na infância. Com sua inteligência, capacidade de perdoar e de se impor dentro dos parâmetros da época, Maudie conseguiu conduzir a relação do casal e conquistar o seu espaço. Everett lhe dava tudo, principalmente a liberdade para expressar o seu dom: a pintura. 

Maud e Everett Lewis viveram em uma pequena casa / cabine por mais de trinta anos. 


Réplica da casa de Maud na Art Gallery of Nova Scotia


Não tinha eletricidade e, portanto, não tinha rádio, TV ou geladeira. Também não havia encanamento na porta. No entanto, o fogão a lenha forneceu calor suficiente durante o inverno.

imagem da  Art Gallery of Nova Scotia

Eu fiquei encantada com o interior da casa de Maud mostrada no filme. Ela pintava e dava cores a todos os cantos e detalhes. A porta era demais de linda. 

imagem da internet

Mesmo se tornando conhecida e suas pinturas sendo vendidas para todos os cantos, Maud e Everett continuaram vivendo na simplicidade e na mesma casa. 

Nem tudo na vida de Maud foram flores, muito pelo contrário. Ele teve muitos dias cinzas e momentos difíceis. Mas com um olhar positivo ele conseguia enxergar flores e cores vibrantes que retratava em sua pintura. 

imagem da internet

Com delicadeza, dom, determinação e persistência Maud enfrentou as dificuldades físicas, se autoafirmou e mostrou que não há limites para quem tem o coração e a alma abertos. A pior atrofia é a da mente, do coração e da alma. 

Além de emocionada e feliz com a história de Maud eu fiquei com vontade de fazer uma raod trip pela Nova Escócia e conhecer de perto a Galria de Art que expõe as obras de Maud e a réplica da casa dela.

Sinopse: “Maud Lewis sofre de artrite reumatoide e convive diuturnamente com a desconfiança de pessoas que a consideram incapaz. Mas existe nela um esplêndido dom artístico, cujo desejo de expressar a fará deixar a família para trás e procurar novos ares. Em seu caminho, aparece um amor profundo por um peixeiro rude da cidade, Everett, que, a princípio, contrata-a com empregada doméstica. Maudie conta a história luminosa do sucesso e reconhecimento de uma artista popular a despeito da dor e do preconceito.”



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sexta-feira, 10 de julho de 2020

Livro "Azar O Seu!"



Eu li em vários blogs a resenha do chick-lit "Azar o Seu!", de Carol Sabar. Todos, praticamente ma unanimidade, elogiaram o exemplar como uma leitura leve, divertida, fluida. Exatamente o que eu tenho buscado nesse período: leveza e diversão para descontrair e relaxar. 


Iniciei a leitura da "Vida Real de Bia", uma mulher de 25 anos que na maioria do tempo se comporta com uma criança de cinco anos fazendo birra porque o coleguinha não emprestou o brinquedo.

No início do livro até me diverti com as situações inusitadas em que Bia se metia. Ao longo da história e dos acontecimentos, se por um lado eu me identificava com canetinhas Sylvapen e a brincadeira para prever como seria meu casamento, eu me incomodava com passagens em que se referia a outra garota como "aberração de traseiro". Cadê a tal sororidade? Será que a chata estou eu com esse politicamente correto? Afinal a licença poética para comédia não permite isso? Sei lá, mas comecei a implicar. 

Se por um lado eu me identificava com hi-fi e o barulho do vendedor de bala puxa-puxa (quem já morou em interior sabe bem o que isso representa na infância), eu impliquei de vez com a Bia infantilizada quando disse que o pai, um homem de 50 anos, e a namorada, uma mulher de 40 anos, poderiam fazer sexo e quanto barulho a idade permitisse, já que ela não voltaria pra casa na tal noite. 
Aí Bia infantilizada e preconceituosa, sabe de nada garota! Esse recado aí abaixo vai pra você!



Se por um lado eu "garrava" ranço da Ana Beatriz Guimarães por outro lado eu me identificava com trechos de músicas citados no texto, me identificava com o sabor de bala soft e seguia a leitura.

Quando eu já estava bem cansada das atitudes da Bia mimada, a história começa a descrever cenários de Juiz de Fora e o casal embarca para Ibitipoca. Mergulhei na viagem do casal Bia e Guga. Viajei com eles. Me vi naqueles rios de águas vermelhas cercado de rochas, mata verde e cachoeiras. Quando falaram em pão de canela eu não resisti. Me rendi. Dei uma pausa na leitura e fui preparar essa iguaria tão típica de Ibitipoca. 




Retomei a leitura acompanhada de uma fatia de pão de canela e cafezinho. Delícia! Até a chata da garota mimada ter outra crise infatilóide, bater pezinho, fazer biquinho e ter chiliquinho. Ô chata! Guga, desiste dessa garota!

Assim, entre ranço da personagem, porém me identificando com passagens, frases, palavras, músicas, e referências segui a leitura até o fim. A escrita é realmente fluida, a diagramação do livro ajuda. Em alguns momentos, extraindo bem, o livro até traz algumas mensagens interessantes.

"- Viu? De vez em quando, eu sei ser flexível. Certas opiniões dependem muito mais das circunstâncias em que foram expressas. Mudam-se as circunstâncias, mudam-se as opiniões."

Costumamos acreditar que existe um senso comum regendo os nossos gostos e opiniões. Por isso, como todos gostaram do livro e eu impliquei tanto com ele, fiquei pensando se em outras circunstâncias a minha opinião seria outra. Se o meu humor, a minha paciência e tolerância estão afetados por esse isolamento sem fim. Mas na verdade somos bilhões nesse mundo pensando, agindo, vivendo e experimentando de forma distinta. Nem todo mundo gosta ou desgosta das mesmas coisas e isso é que enriquece os diálogos, os pontos de vistas diversos.

Sinopse: "Bia está parada num engarrafamento no Rio de Janeiro, pensando em sua vida azarada. Sem emprego, atolada em dívidas, ela não imagina que está prestes a viver a grande coincidência da sua vida. O motorista do carro ao lado está buzinando, tentando se comunicar com ela, como se fosse um velho conhecido… E ele é! Mas Bia não o reconhece. E como poderia? Ele é um homem, não mais o garoto de dez anos atrás. Está mais encorpado, cortou o cabelo, livrou-se do aparelho nos dentes e das espinhas do rosto, está tão diferente, tão lindo… O motorista sai do carro, mas não tem tempo de se explicar, pois começa um violento tiroteio e eles têm que se jogar lado a lado no asfalto. Certa de que está prestes a morrer, Bia entra em desespero e se prepara para dizer suas últimas palavras, na esperança de que o suposto desconhecido deitado ao seu lado possa levar um recado a Guga, seu amor da adolescência, sem perceber que é ele próprio que está ali, ouvindo a inesperada declaração de amor! Os dois escapam juntos do tiroteio e, a partir daí, começam a se envolver, dia após dia… Guga, sem coragem de assumir sua verdadeira identidade. Bia, fascinada por ele e feliz consigo mesma por finalmente estar se apaixonando por alguém que não é Guga… “Azar o seu!” vai além de uma comédia romântica. É uma reflexão sobre a importância da amizade verdadeira, do perdão e do autoconhecimento, que nos resgata o poder de decidir sem medo e de reverter escolhas que nos impedem de ser feliz.".




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terça-feira, 7 de julho de 2020

Pão de Canela de Ibitipoca


A saudade de viajar está uma loucura por aqui. Tudo desperta. Um filme, um livro, uma frase perdida, um cheiro, um sabor. 

Estou eu envolta na minha leitura, viajando nas histórias dos personagens quando esses resolvem embarcar para Ibitipoca. Ah, Ibitipoca... cachoeiras, trilhas, grutas, mirantes, mata, natureza, lobo-guará, comida boa, vila charmosa... quantas lembranças...

Até que em um diálogo os personagens do tal livro, que já chegaram em Ibitipoca, falam do tal pão de canela, a especialidade mais tradicional do local. Não tem como ir a Ibitipoca e não comer o pão de canela, não trazer pra casa, não chegar em casa e ficar desejando mais desse pão. O sabor e o cheiro brotaram nos meus sentidos.

Fechei o livro e fui para a cozinha preparar a tal iguaria. Na verdade, me arriscar no preparo já que nunca tinha feito antes. Não sei se foi sorte de principiante ou se a receita é bem fácil mesmo, mas ficou delicioso.


O que utilizei na massa:

- 3 ovos;
- 1 copo de leite morno - 250 ml;
- 1/2 xícara de açúcar;
- 3 pacotinhos de fermento biológico fresco - 30 gr
- 1 colher de sopa cheia de manteiga;
- 1/2 xícara de óleo;
- 1 pitada de sal;
- 6 xícaras de farinha de trigo - pode precisar de um pouco mais ou menos, o importante é a massa desgrudar das mãos.

O que utilizei no recheio:
- 3 colheres de sopa de açúcar;
- 3 colheres de sopa de canela;
- 3 colheres de sopa de manteiga.

Como fiz o pão:

Coloquei em uma vasilha o fermento, o açúcar e o sal e misturei. Acrescentei o leite morno, o óleo, a manteiga e os ovos. Misturei com as mãos (sim, faz a maior melecada, mas é importante o calor das mãos).
Acrescentei quatro xícaras de farinha de trigo e continuei misturando com as mãos para ver o ponto. Fui adicionando as outras duas xícaras aos poucos para sentir a textura da massa.
Assim que a massa ficou homogênea e desgrudando das mãos (precisei sovar um pouco para chegar nesse ponto), coloquei para descansar por 45 minutos coberta com um pano de prato.

Enquanto a massa descansava eu preparei o recheio fazendo uma pasta com os três ingredientes e reservei.

Passado o tempo, massa crescida e descansada, dividi em dois pedaços.

Estiquei cada um deles com um rolo. Espalhei o recheio fazendo uma camada sobre a massa esticada. Eu achei que ficaria recheio demais e por isso não utilizei todo o conteúdo, mas me arrependi.



Enrolei em formato de rocambole e pincelei uma gema de ovo.


Levei ao forno pré-aquecido a 200ºC por 20 minutos. Quase queimou! Mas não queimou! Ficou perfeito.


Na próxima fornada eu colocarei mais recheio. Vou caprichar mesmo, sem dó nem piedade.



Comi uma fatia acompanhada de café e de lembranças desse lugar lindo que tenho vontade de voltar.


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