sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Do Ponto de Vista do Canal


Nesta semana eu tive que ir ao dentista para fazer um canal. Quem me conhece sabe o horror que eu tenho de dentista. Imagina ir ao dentista para fazer o quê? Um canal! Então o meu sofrimento começou no início da semana antecipando mentalmente todo o meu medo. Gente, vocês não fazem ideia das cenas que a minha imaginação cria com o tema dentista. Penso naquele motor infernal vazando o meu dente, chegando ao osso, atravessando a mandíbula. Nunca senti dor de dente, mas tenho certeza que é uma dor fina, aguda, intensa, latejante e torturante. Diante dessa necessidade de fazer um canal isso mesmo um ca-nal, eu nunca me arrependi tanto de todos os açúcares que ingeri até então.

Na véspera da minha consulta, estava eu conversando com a Sofia e falei assim... muito naturalmente (o autocontrole de mãe para não traumatizar os filhos é surpreendente) que iria ao dentista fazer um canal. A Sofia que, nos seus dez anos, tudo o que conhece sobre dentista é sala colorida com livros e brinquedos, jalecos brancos com barra fofinha combinando com a toca, escovas coloridas, aplicação de flúor e ajuste de aparelho, não entendeu por que a mãe doida iria fazer um canal no dentista. E a mãe tensa com a situação do dia seguinte não entendeu porque a filha não entendeu. Entenderam? E aí rolou alguns minutos de papo de doido:

- Mãe por que você vai ao dentista pra fazer um canal? Ouçam aqui aquela entonação de como assim? Dããã
- Ué porque é no dentista que se faz canal!
- Mãe, canal a gente faz em casa.
- Não filha. Vacina a gente até toma em casa porque a enfermeira pode vir aqui, mas o dentista não atende em casa.

Depois de alguns minutos de conversa desconexa finalmente nos entendemos e caímos na risada. Canal para a Sofia é óbvio que é canal de Youtube. Para mim é óbvio que canal é de dente. Por isso que eu sempre digo que o óbvio tem que ser dito. Como a prática de dizer o óbvio melhoraria as questões de comunicação que temos na vida...

Bom, deixa eu parar de filosofar e voltar a questão do canal.

Chegou o tal dia do canal. Eu tentei arrumar mil e um motivos para cancelar a consulta, mas encarei a minha realidade e lá fui eu. Cheguei ao consultório achando que teria um piripaque. Sentei, falei do meu medo para a dentista, expliquei que a anestesia em mim demora a pegar e passa rápido. Não sei que mistério é esse, mas isso rola, mesmo os dentistas não acreditando. Ela já começou com três anestesias, deu o tempo e quis começar. Eu avisei que a língua estava formigando, mas não dormente ainda. Mesmo assim ela insistiu tranquilamente, falou que iria só tirar o curativo bem devagar, que não iria doer, mas se eu sentisse algo era só avisar. Eu com pescoço duro, olhos esbugalhados, mãos trincadas na cadeira, abri a boca a contragosto. O motor começou e alguns segundos depois eu levantei os dois braços, as duas pernas e solto um ãããããã. A moça para tudo e pergunta:

- Doeu muito?
- Doeu pouco, mas esse é o início para doer muito.

Sério! Acha mesmo que eu vou esperar doer muito para ter chilique?

Bom, mais duas anestesias e retomamos o procedimento. Dessa vez totalmente anestesiada fisicamente, mas supersensível emocionalmente. Eu totalmente travada na cadeira, pescoço duro, ombros doendo, pensando que seria um grande negócio ter uma cadeira de Shiatsu na saída do consultorio dos dentistas (fisioterapeutas, vejam a dica), olhos arregalados fixos nos óculos da dentista e vendo a batalha na minha cavidade bucal em lente de aumento.

Nos momentos de pânico, a mente sempre tem lampejos de sanidade e são nesses flashes que a gente tem que se agarrar com todas as forças. E foi entre a visualização imaginária de sangue escorrendo e motor descontrolado furando o céu da boca que a minha mente se acalmou por instantes e pensou: você não está sentindo dor, está apenas aumentando o seu sofrimento, aliás, está criando um sofrimento que não existe. Muda o foco!

E foi o que eu fiz. Mudei o foco, tirei os olhos dos óculos da dentista e olhei para frente. E vejam o que eu ainda não tinha visto!



Isso tudo para dizer que, na maioria das vezes, mesmo as maiores chatices têm o seu lado bom. Basta a gente mudar o ponto de vista para ver o lado bom da vida.
A Autora:
Chris Ferreira

Chris Ferreira

Eu, uma mãe integral mesmo trabalhando em horário comercial, que procura equilibrar os diferentes papéis da mulher com prioridades e alegria.

Acredito que podemos levar a vida a sério, mas de forma divertida e é isto que eu tento mostrar no blog.

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2 comentários:

  1. Verdade....eu tmb tenho pavor de dentista, na próxima consulta vou tentar fazer isso, mudar o foco e pensar em outras coisas....pena q n tenho uma vista dessa no meu dentista...srsrsrsr

    www.reinomae.com

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  2. Adorei seu post... e o final super inesperado!
    Realmente, essa filosofia de "mudar o foco" serve para tantas coisas!

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