Este texto estava escrito para ser publicado na minha TL, mas não sei bem porque eu acabei não postando. Ficou lá marcado como privado. Como hoje a linha 4 do metrô será liberada para o público em geral, não apenas para quem esteve envolvido de alguma forma com os Jogos Rio2016, resolvi deixá-lo aqui no meu “bloguitcho”.
No domingo, dia 07/08, segundo dia de Jogos Olímpicos Rio2016, eu fui a primeira vez ao Parque Olímpico. Tá, e daí? Fui eu e mais 210 mil pessoas.
Quem me conhece sabe que sou meio claustrofóbica e meu instinto de tatu não é muito apurado. Essa parada de andar por baixo da terra não é muito a minha praia. Apesar de usar o metrô, eu evito os horários de rush sempre que posso. Por isso eu tinha jurado, bem juradinho, que não entraria na linha 4 do metrô nem amarrada. Só em pensar no trecho enorme embaixo da terra, um mundo de gente e ainda ter que fazer baldeação, me dava um misto de angústia e preguiça.
Mas na hora de levar a Sofia para ver a Ginástica Olímpica, avaliando as alternativas para chegar ao Parque Olímpico, acabei mudando de ideia. Afinal, em Paris (chique na última eu, né meRmo?) para chegar do outro lado da cidade para ir naquele ponto turístico, eu vou amarradona e nem reclamo das três conexões que tenho que fazer. Em Londres (mas sou chique meRmo) quanto mais a gente troca de linha, mais acha o metrô de lá o máximo. Então bora parar com isso de ficar cansada só de pensar que tem que trocar da linha 2 para a linha 4 e depois pegar o BRT. Preguiça vencida! Ainda tinha a segunda parte, a angústia. Respirei fundo, me convenci, me enchi de coragem e resolvi encarar. Lá fui eu de mão dada com a Sofia, respirando fundo e tentando controlar os pensamentos negativos.
Assim que eu entrei no vagão avistei um voluntário com aquele uniforme que eu conheço bem e perguntei se ele estava indo para o Parque Olímpico. Sim, ele estava! Problema de orientação resolvido. Bastava colar no “Meu Voluntário Favorito”, como os grupos seguem as bandeirinhas na Disney. Primeira etapa foi moleza. Descemos na General Osório e lá fui eu andando rapidinho, com passinhos de japonesa, pois o meu voluntário mais parecia um competidor de marcha atlética, segurando a Sofia pela mão e brincando de sombra do meu voluntário-guia. Entramos no metrô da linha 4 que estava tranquilo, não tinha a multidão que eu imaginei, sentei com a Sofia e fui na boa até a estação Antero de Quental, tão na boa que até fizemos selfie. Mas foi só o trem começar a sair da estação que os pensamentos começaram a pipocar: agora o trecho é enorme, é muito embaixo da terra, se controla, respira, e se o trem parar aqui embaixo, se controla, respira, muda o foco, observa as outras pessoas. Muda o foco, muda o foco, procura algo interessante para olhar (não dá só tem parede escura lá fora), respira, não deixa a Sofia perceber, procura alguém para observar. Aí vi duas meninas por volta dos seus 5 anos ajoelhadas no banco, olhando pelo vidro e cantando “sai da te-rráá, sai da te-rráá, sai da te-rráá”. Pensei logo em me juntar a elas e reforçar o coro do sai da terra. E nessa distração chegamos à estação de São Conrado. Ufa, só em saber que ali tem alguma ligação com o mundo externo, com a luz, com o ar, já fiquei tranquila novamente. Mal relaxei e o trem começou um novo movimento para mais um trecho longo embaixo da terra. Assim que minhas amiguinhas ameaçaram a reiniciar a cantoria, o pai reprimiu e mandou elas pararem porque estavam incomodando os outros passageiros. Sério isso? Como assim, incomodando? Bom, acabou a minha distração. Bora observar outras pessoas. Aí olhei um casal australiano que estava de uniforme com os aros olímpicos na bermuda, desenho de canguru, tudo bonitinho, bege e azul, vamos ver se eu entendo o inglês deles, e prestando a atenção na conversa, eles estavam elogiando os transportes no Rio. Elogiando o metrô, o BRT e acesso às áreas de competição. Fiquei meio assim... tipo... que legal! É legal, mas tá demorando pra pooorrrraaa sair da terra. Nessa ansiedade eu me vi em pé perguntando para o “meu voluntário favorito” se ainda ia demorar muito para chegarmos ao BRT. E ele começou a elogiar o metrô, BRT, e coisa e tal. De repente... a luz! Ouvi um coro de Woooowww! O que foi? O que é isso? Todos aqui também são assim... meio claustrofóbicos? O voluntário me explicou “Sorria você está na Barra”. Finalmente estávamos na superfície! Me lembrei das duas amiguinhas e pensei em pegá-las pelas mãos, fazermos uma rodinha e pularmos em círculos cantando “saímos da te-rrá, saímos da te-rrá, saímos da te-rrá”, mas o pai delas já tinha cortado esse barato, né? Então fui prestar a atenção nos “gringo tudo” que estavam no vagão, com as caras coladas nas janelas e fazendo “woooow”. Eles estavam maravilhados com a beleza da chegada à Barra. E eu resolvi olhar lá para fora e me rendi: tá bonito, mas tá muito bonito mesmo.
Depois dessa primeira experiência na linha 4, eu repeti o percurso mais quatro vezes (se considerar ida e volta podemos contar oito vezes) com mais tranquilidade sabendo que tem uma luz no fim do túnel e essa luz vai brilhar mais se tivermos respeito, educação e gentileza ao utilizar os transportes públicos.
Que essa luz facilite a vida da população carioca. E só para lembrar: metrô cheio na hora do rush é um problema de todas as grandes cidades e se torna um problema maior se estiver cheio de pessoas mal-educadas.
Compreendi voce claramente.....afinal genetica e fogo ........
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