Taí uma coisa que eu adoro! Descobrir um cantinho novo na minha cidade ou nos lugares que estou a passeio (falei AQUI da descoberta do Begijnhof em Amsterdam).
E foi assim andando pelas ruas de São Cristóvão com olhar curioso, querendo encontrar algum lugar, espiando cada detalhe que me deparei com um portão enorme, todo trabalhado, trancado e com uma construção antiga e curiosa por trás (contei neste post AQUI). Perguntei, procurei, pesquisei e descobri que se tratava do Hospital dos Lázaros em São Cristóvão.
O site do IBAM cita o local como um posto turístico de importância histórica e arquitetônica. Aí eu quis conhecer, né? E fiquei de boca aberta! O lugar é realmente surpreendente. A gente não tem ideia do que se esconde ali por trás.
Um espaço enorme que lá atrás, muito antigamente, foi propriedade dos jesuítas até ser confiscada pela Coroa quando essa ordem religiosa foi expulsa de Portugal e de seus domínios.
Cercado de jardins bem cuidados.
Caminhar pelos espaços verdes disponíveis já seria um ótimo passeio.
Até me imaginei sentada à sombra de uma das árvores lendo um livro.
Mas as surpresas não ficaram apenas do lado de fora. A entrar no prédio principal, que foi um centro de referência de tratamento da lepra, fundado em 1763, as surpresas continuaram.
Apesar do hospital estar fechado, o refeitório da ala feminina estava impecável. Com centro de mesa e tudo. Lindo de ver! É uma pena os hospitais em funcionamento não terem uma estrutura dessa e demonstrarem o mesmo respeito e cuidado com os seus pacientes.
Uma curiosidade: a última paciente com lepra tinha morrido dois anos antes da minha visita em 2013. Ela foi deixada no hospital aos sete anos de idade e viveu lá até os oitenta sem nunca receber uma visita de familiar.
Além de muitas histórias, o prédio mantém muitos detalhes, como os azulejos do refeitório feminino.
O refeitório masculino é amplo, arejado, claro.
E também trabalhado no detalhe.
A luz dos refeitórios chega por um jardim interno cercado de azulejos.
Fiquei ali horas babando e tirando muitas fotos.
Na parte de baixo ainda tem uma pequena capela com planta octogonal dedicada a São Pedro, sala de jogos com mesas de sinuca, uma pequena biblioteca.
A escadaria é de madeira original que eu não me lembro mais qual é. Mas é uma dessas madeiras de lei bem tradicionais que não se vê mais por aí. E olha a conservação e a limpeza! Eu não resisti eu fui cumprimentar as duas moças responsáveis pela limpeza do lugar. Simplesmente impecável.
No saguão superior mais suspiros.
Os azulejos são trabalhados com fios de ouro.
Além dos leitos, tem uma segunda capela dedicada a São Cristóvão.
Nessa pérgula cheia de charme podemos observar outro jardim.
O ambulatório ainda cheirava a éter.
Os vitrais são lindos e vale prestar a atenção aos detalhes e cores. Abaixo um exemplo dos diversos vitrais que vi lá. O vitral art nouveau de Formenti de 1920 com inscrição Aqui Nasce a Esperança sugerida por D.Pedro II em 1881 no livro de visitas.
A imagem foi obtida no blog Literatura e Rio de Janeiro e vale a pena entrar no post "Lazareto de São Cristóvão" para ver as fotos belíssimas, principalmente da fachada frontal.
No jardim ainda tem um prédio que servia de cinema e teatro para os doentes, e a mórbida Capela Mortuária, onde os mortos eram velados antes de saírem para o enterro. Construída em estilo gótico com vitrais e o anjo da morte esculpido acima da porta da capela que eu cortei na foto.
Não foi fácil conseguir a visita, mas com um pouco de insistência eu consegui. Liguei para a Arquidiocese da Candelária, responsável pelo local.
Telefone: (021) 2589-0065 Ramal:
E-mail: sec@candelaria.com.br
Sensacional descoberta, Chris!
ResponderExcluirLugar lindo!!!
Bjs,
Karla
Ai Chris! Como sempre, fazendo passeios inusitados pelo Rio e nos inspirando com seu lindo texto e suas descobertas. Parabéns pelo post! Ele serve para mostrar que podemos encontrar beleza em qualquer lugar, basta você a ter dentro de você. Beijos!
ResponderExcluirwww.viajarhei.com
Parabéns pela descoberta! Eu vi o hospital a partir do viaduto do gasômetro, mas não sabia do que se tratava. Encontrei uma referência a morro dos Lázaros que me trouxe aqui. Obrigado por compartilhar!
ResponderExcluirOlá, como se faz para visitar, Chris?
ResponderExcluirmoro em São Cristóvão sabia que existia esse local mas não imaginava que era tão lindo por dentro agora tem a curiosidade de entrar e conhecê-lo.
ResponderExcluirEssa é mais uma jóia rara escondida no Rio de Janeiro
Gostaria de saber se posso utilizar três fotos do seu site na minha página sobre o Rio de Janeiro: www.marcillio.com/rio, porque tentei muito conseguir uma visita e não foi possível a Irmandade disse que não estão mais fazendo visitas e o site que fazia saiu do ar. Agredeço sua atenção Jane Bomsuccesso Moreira - janebmoreira45@terra.com.br
ResponderExcluirO lugar é realmente lindo pois morei lá na minha infância. Infelizmente não foi bom tive Hanseníase e fui cobaia deles por muitos anos até descobrirem remédios para o tratamento que é usado hoje. Não se diz mais lepra e sim Hanseníase. O preconceito é a pior das situações.Bonitas fotos parabéns! Muita história neste lugar de sofrimento e cárcere privado. A história dos Hansenianos é muito triste.
ResponderExcluirSim, a história de quem sofreu com a doença em época de poucos remédios para o tratamento é muito triste sim. O preconceito é a pior parte.
ExcluirEu voltei no meu passado... vendo essas fotos,eu também tive hanseníase em 1968,e fiquei internada lá por 3 anos. Fui instrumento de pesquisa p medicamentos também. Eu sou do ES, e na época muito crianças ainda, fui levada pra lá, saindo do seio de minha família e obrigada a ficar lá. Graças a Deus tinha uma freira a Ir Marta que tratava com carinho ascrianças que lá estavam, Éramos 8 meninas, algumas moças e basta nte pessoas idosas. Mas agradeço a Deus, pois todos os domingos tinha missa na capela de cima e eu não perdi a minha fé, recebia Jesus Eucarístico toda semana, tinha rotina de estudo com uma professora D. Eliete também interna. Aprendi fazer crochê com a última das internas D. Lídia. Graças a Deus eu não fiquei com traumas, soube fazer uma boa limonada desse limão. Glória Deus
ResponderExcluirEu fico emocionada quando recebo comentários de pessoas que moraram no hospital. Que bom que em um momento doloroso encontrou a Irmã Marta. Fico feliz em saber que não ficaste com traumas.
Excluirbeijos
Chris
Que lindo!! Quantas lembranças eu tenho da D. Lidia. Um amor de pessoas ! Tenho até hoje uma arvore de natal de crochê que ela fez pra mim quando criança.
Excluirmoro exatamente do lado e nunca consegui entrar , do terraço da minha casa da ra ver o mortuário.
ResponderExcluirEu morei neste lugar
ResponderExcluirObr por partilhar a historia do local e pela delicadeza em como foi seu texto. Todos os domingos eu, minha mãe e algumas freiras fazíamos visitas aos moradores do Hospital. Ter visto as fotos me fez relembrar muitas histórias vividas nesse local e minha infância correndo pelo hospital, conversando com os internos e principalmente com a D. Lidia, Sr Luiz e outros.
ResponderExcluirVisitei essa maravilha nos anos 60. Lembro de uma peça na parede dotada de fogo para os doentes acenderem seus cigarros. Estarei equivocado?
ResponderExcluirOi Chris .. me chamo Artur e sou coordenador nacional do Morhan. Tenho muitas histórias desse local. Mas uma coisa q podes destacar e que no vitral e em vários locais aparece a frase " aqui renasce a esperança" essa foi a ordem que D. PEDRO II mandou trocar as inscrições do inferno de Dantes " deixai de fora toda a esperança: em uma das visitas habituais dele.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
Excluir