Neste feriado de Carnaval nós fomos à praia no final de tarde todos os dias. Postei imagens lindas de um mar tranquilo, crianças fazendo stand-up, pores do sol lindíssimos dignos de aplausos.
Mas ontem, na terça-feira de Carnaval, teve um outro lado desse cenário que me deu mais do que tristeza, tive um sentimento de jogar a toalha, do tipo não tem jeito.
Chegamos no Arpoador no final da tarde, por volta às 19h, quando a praia já está mais vazia, a temperatura mais agradável e o espetáculo do pôr do sol prestes a iniciar.
Tinham alguns espaços livres de pessoas, cadeiras e barracas onde poderíamos esticar a nossa canga. Mas esses espaços não estavam vazios, estavam repletos de lixo.
As crianças que estavam comigo falaram:
- Não tem como a gente ficar na praia. Não tem espaço. Tá tudo sujo.
Como assim seremos impedidos de desfrutar a praia que a gente tanto gosta por causa do lixo que as pessoas deixam? Nada disso. Falei que iríamos limpar a área e ficar por ali mesmo. Na maior animação sugeri que fizéssemos um mutirão de limpeza daquela parte da praia. Afinal, as latas de lixo cor de abóbora berrante e que estragam a maioria das fotos do Rio estavam ali ao lado, apenas a dez passos, disponíveis e inacreditavelmente vazias.
Começamos no clima de brincadeira a fazer a limpeza. Cata lixo, joga nos latões, cata mais lixo, joga nos latões. Éramos cinco fazendo isso: três crianças e dois adultos, o que fez o trabalho ser divertido e rápido.
Mas no meio dessa brincadeira a Sofia chegou pra mim e falou:
- Mãe, as pessoas estão rindo da gente. Tô ficando com vergonha. Elas estão nos achando ridículas.
- Filha, que bom que elas estão rindo. Rir é bom e por outro lado elas estão percebendo a nossa atitude. E não precisa ter vergonha de fazer o certo. Quem deixou o lixo é que deveria ter vergonha. O que estamos fazendo não é ridículo. Ridículo é deixar a praia neste estado. Vamos lá, deixa elas pra lá.
Quando eu fui catar esse lixo que estava na frente de um casal, a mulher me olhou balançando a cabeça com reprovação e com aquele sorriso que a Sofia falou, um sorriso de deboche, e um olhar que me chamava de ridícula, do tipo: "as loucas patricinhas saíram da piscina dos seus condomínios e chegaram na praia". Eu olhei pra ela com um sorriso bem simpático e falei: Sério, eu não consigo ficar no meio do lixo, eu gosto de aproveitar a praia limpa como ela deveria ser. E continuei a fazer a minha parte, mas com a sensação de que ela era só minha, e que não estava nem servindo de exemplo bom para os outros.
Rapidamente a nossa farra de catar lixo acabou, esticamos nossa canga e começamos a curtir a praia como devíamos.
Mas entre um mergulho e outro, entre um copo de mate e um biscoito O Globo, eu fiquei pensando e observando.
A coisa está além da falta de educação e do respeito com o outro. Não é aquele comportamento mal-educado de acabar de tomar a cerveja e jogar a latinha pro lado, fora da área que a pessoa está ocupando. Não é aquele comportamento de sujar a rua, mas deixar a sua casa limpa. As pessoas estão jogando o lixo ali, no local que elas estão desfrutando. Elas estão convivendo com aquela sujeira toda sem se incomodarem. O lixo estava no meio da rodinha, as crianças chegam da água para falar com as mães e pisam no lixo que as próprias mães deixam, sentam em cima do papel da empada que elas comeram. E o pior, não se incomodam. Não percebem o lixo.
Eu me lembrei do trecho da crônica "The Rio Thing", do André Eppinghaus, na Revista O Globo de 24 de janeiro de 2016.
Ele falava das belezas do Rio, de como a cidade é vista e da oportunidade que teremos nesse ano de Olimpíadas de sermos vistos pelo mundo todo.
"A cidade que chega olímpica aos 450 anos e tem a oportunidade de contar outras histórias sobre si mesma. Mostrar ao mundo que hoje a bossa é o passinho, que o morro pode ter vez e que os cariocas, além de apaixonados pelo Rio, também são capazes de cuidar dele. Isso não depende de obras, de milhões, nem de governo. Depende de gestos simples, como sair da praia e levar o seu lixo embora com você. O que não vai faltar é gente prestando a atenção."
Aí está um ponto. Fazemos nada e achamos que fazemos muito. Fazemos pouco e achamos que fazemos demais.
Um casal que estava ao nosso lado, e observou a nossa movimentação, colocou todo o seu lixo no saco. Lindo! Ponto para eles! O homem quando estava arrumando as suas tralhas para deixar a praia ainda olhou para mim e para a minha amiga e falou orgulhoso do seu lixo ensacado:
- Se todos fossem como a gente isso aqui seria bem melhor, né?
E foi-se deixando a sacolinha ali na areia. Gente, a dez passos dali estava a escada que ele subiu para ir embora, ao lado da mesma escada estavam duas latas enormes de lixo, ele não precisava nem desviar do caminho dele, bastava ao subir os degraus levar o braço ligeiramente para o lado, abrir a mão e deixar o saco cair dentro da lata. Só isso! Mas afinal ele já fez mais do que a maioria.
Na situação em que estamos o gesto simples não é apenas levar o próprio lixo, mas levar o lixo que encontrar no caminho também.
Continuando na crônica do André Eppinghaus, que é autor do livro "Carioca de A a Z".
"Meio milhão de visitantes aqui mesmo e alguns bilhões de curiosos ao redor do planeta. Compartilhando imagens e impressões. Postando, comentando, criticando, recomendando, curtindo o Rio na veia ou vendo pela televisão, computador, tablet, celular ou no feed mais próximo. Este é o ano em que nos tornaremos cidade-celebridade. Mas precisamos decidir se queremos apenas sair bem na foto ou teremos algo inteligente e relevante a dizer. Esta é a parte que cabe a cada um de nós."
Na Copa já deixamos que os japoneses fossem o exemplo limpando os estádios, os alemães fossem o exemplo não só no gramado, mas na praia levando os copos plásticos. Mas sinceramente, hoje eu estou achando que nos falta mais do que educação para sermos uma celebridade bom exemplo, nos falta dignidade.
Tomara que eu esteja errada e que além de pores do sol maravilhosos, cenários belíssimos, natureza deslumbrante e um povo alegre, sejamos também um povo educado e com vontade de ser bom exemplo e de aprender com os outros.
Que nenhuma criança se sinta envergonhada de catar o lixo deixado no seu caminho. Que ninguém se intimide por fazer o certo.
Que independente de olimpíadas, independente das mídias, a gente queira alcançar o Olimpo e fazer jus a essa beleza.
Uau Kita, seu texto ficou maravilhoso ! Até me arrepiei ! Fiquei muito orgulhosa do pouco que fiz ajudando no mutirão da limpeza. E muito triste em perceber que aquele ato parecia uma gota no oceano.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente post !
Perfeito Chris!!! Se todos fizessem a sua parte viveríamos muito melhor. E acho isso mesmo , não temos que nos envergonhar por fazer o certo. Os outros sim..bjus e parabéns pela matéria!!
ResponderExcluirMárcia
Perfeito Chris!!! Se todos fizessem a sua parte viveríamos muito melhor. E acho isso mesmo , não temos que nos envergonhar por fazer o certo. Os outros sim..bjus e parabéns pela matéria!!
ResponderExcluirMárcia
Já fiz esse tipo de coisa e ainda faço, se a gente pode por que não? Não me importo nem um pouco!
ResponderExcluirCom pequenos gestos que as coisas boas acontecem!
Tenha certeza de que alguém que te observou fará o mesmo, é assim que funciona a corrente do bem!
Lindo texto!
Lindo texto Cris, passamos por situações semelhantes, fico apavorada como falta educação para nosso povo.
ResponderExcluirBeijos
Quézia Silva
kemuelesamuel.blogspot.com.br
Atitude maravilhosa a sua. Deveria ter vergonha é quem suja e não recolhe o próprio lixo!!
ResponderExcluirBeijo, lindona!
Chris, concordo MUITO com você. Fazer a nossa parte não é mais o suficiente... temos que fazer a nossa parte e a do outro para vivermos melhor. E sem essa de se achar trouxa por fazer porque estamos cuidando da qualidade do nosso dia-a-dia.
ResponderExcluirbjs
Lele
Adorei o texto .... Eu tbm não sei como as pessoas conseguem ficar no meio do lixo, aqui ensino o Gui lixo é no lixo, e se não tem lixeira perto coloca na bolsa, mochila sei lá mais não joga no chão ... Parabéns pela atitude de vocês
ResponderExcluirBjs Mi Gobbato - Espaço das Mamães
Oi Chris!
ResponderExcluirO triste é q tem tanta gente assim q quem faz o certo acaba sendo 'ridicularizado' direta ou indiretamente! O importante é q tenhamos nossa consciência limpa, e a praia, e a praça, e nossas casas...
Bela atitude!
Bjoooos
muitospedacinhosdemim.blogspot.com.br
Olá, boa tarde!
ResponderExcluirAdorei seu texto, concordo totalmente. Tenho a mesma sensação nas salas de aula do município, onde sou professora. Os alunos encontram a sala varrida e dali a pouco nota-se restos de pontas de lápis, folhas amassadas, pacotes vazios de biscoito, tudo sendo jogado no chão, e a criaturinha parece nem perceber, como se fosse natural. Passo a aula toda mandando jogarem o lixo na lixeira, ali tão perto, qual a dificuldade??? Pergunto se fazem isso em casa, alguns dizem que sim, com a expressão debochada como fizeram para vocês na praia. Pior que muitos colegas professores fazem a mesma cara diante do meu hábito de arrumar as mesas quando entro na sala de aula, porque os móveis todos revirados e espalhados me perturbam, o espaço desorganizado interfere no trabalho. Muitas vezes me sinto uma pateta, não é agradável. Parabéns pela sua fibra em resistir aos olhares debochados. Penso que ainda vai demorar muito para termos um povo mais consciente. Abraço!
Muito bem, parabéns pela atitude, eu tb costumo catr o lixo da praia por aqui, realmente as pessoas olham como vc estivesse fazendo algo sobrenatural, mas é isso aí, tô nem aí! Muito bem e parabéns tb por ensinar as crianças essa lição de sustentabilidade e de vida! Bj, Alê
ResponderExcluirRidículo é o desrespeito de quem deixa a praia nesse estado. Absurdo falta de educação e cidadania. E pra quem riu também entra no ridículo. A atitude de vocês foi sensacional!
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