quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A Pessoa em Brigadeiro de Colherzinha

Era uma vez a pessoa e uma amiga. As duas foram almoçar em um bar com comida de boteco da melhor qualidade. E comida de boteco boa, tem uma variedade incrível de bolinhos saborosos, crocantes e com nomes divertidos que despertam a curiosidade e a vontade de experimentá-los. Então é claro que as amigas pediram uma porção de bolinhos de entrada.

Assim que fizeram o pedido da entradinha para o garçom, este perguntou se elas já queriam adiantar o pedido do prato principal. As duas mulheres que são pessoas comedidas, conscientes, equilibradas e maduras o suficiente, falaram que iam aguardar a entrada para saberem se, após comerem os bolinhos maravilhosos, pediriam dois pratos ou se apenas um seria suficiente para as duas. Nossa, que educação alimentar admirável dessas duas pessoas!

As amigas comeram seus bolinhos calmamente, saboreando os pedaços entre conversas, risadas e desabafos. Quando já iam pedir apenas um prato para as duas dividirem, o garçom passou com uma porção de uma entrada bem bonita. O prato tinha foguinho aceso, tinha uns palitos com pontas coloridas, uma arrumação toda festiva. Ou seja, suficiente para abalar a maturidade das duas amigas e fazê-las desejarem aqueles bolinhos de qualquer coisa que fosse tão bem servidos. Gente, fala sério, foguinho e palitinhos com pontinhas de papel celofane vermelho e azul em um único prato é irresistível, né não?

A pessoa e sua amiga, com a maturidade já meio abalada, chamaram o garçom e pediram um igual aquele que ele acabou de entregar na outra mesa (apenas um detalhe: a outra mesa tinha 8 pessoas). A porção dos bolinhos bonitinhos era um fondue de coxinha que as duas amigas comeram com prazer e satisfação. Saboreando devagar e conversando animadamente.

Depois dessa orgia de bolinhos e entradinhas, as duas retomando o equilíbrio, a maturidade, a sensatez e a educação alimentar concluíram que ficariam apenas nas entradas e não pediriam o prato principal.

Mas pedir a conta assim direto... foi meio demais para as duas mulheres maduras, comedidas, equilibradas, sensatas, conscientes e educadas. Já que abriram mão do prato principal, uma sobremezinha cairia bem né? Afinal, o que é uma colherzinha de sopa (gente, tudo é uma questão de parâmetros. Pense na colher de arroz que você consegue enxergar a colher de sopa no diminutivo) abarrotada de brigadeiro?! Ah, é coisa pouca! Bora chamar o garçom!

As duas pedem brigadeiro de colher de sobremesa e o garçom pergunta: um ou dois? Simultaneamente em movimento sincronizado aparentemente muito bem ensaiado as duas levantam a mão e balançam 4 dedos no ar. O garçom arregala os olhos, meio que ri, olha para a mesa para confirmar que é uma mesa de dois lugares e indaga: QUATRO?

Lá vai ele com um misto de dúvida e estranhamento no rosto: será que as duas mulheres na mesa de dois lugares são apenas engraçadas e divertidas, ou são malucas que alimentam amigos imaginários, ou seriam daquelas pessoas que veem espíritos glutões desencarnados, mas ainda apegados aos prazeres mundanos?

Na dúvida o garçom retorna com apenas duas colherzinhas de sopa (pensem na colher de arroz) abarrotadas de brigadeiro. As amigas aceitam de bom grado, pegam cada uma a sua colher, brindam (sim, sobremesa merece brinde sempre), lançam o olhar apaixonado para os seus brigadeiros e começam a saborear. Nessa hora não tem conversa, não tem desabafo, não tem risadas. Tem apenas olhares apaixonados para seus brigadeiros e lambidas. Ao mesmo tempo as duas pousam suas colheres já perfeitamente limpas e brilhantes no prato e em mais um movimento sincronizado aparentemente ensaiado levantam o dedo para chamar o garçom. Este se aproxima e as duas falam em coro: pode trazer os outros dois. Os olhos incrédulos do garçom mais uma vez vasculham a mesa procurando os amigos imaginários ou as almas penadas que poderiam estar ali. Ele vira as costas e volta com outras duas colherzinhas de sopa (pensem mais uma vez na colher de arroz) e entrega para as duas.

Não, não tinha amigo imaginário, não tinha espírito desencarnado, tinha ali dois espíritos gulosos, não, apaixonados e felizes.



Primeira consideração: essa ideia de pedir sobremesa em dobro foi tão boa, mas tão boa que essa história não vai ficar apenas no "Era uma vez". Vai rolar "Foi uma segunda vez", "Foi uma terceira vez", "Foi uma quarta vez".

Segunda consideração: a relação com brigadeiro, esse doce brasileiro maravilhoso, não é de gula. É de paixão mesmo. Aliás, foi por causa dele que a pessoa "garrou no ódio" de um tal chefe de cozinha inglês.
Tá certo que o projeto "Food Revolution Day" é legal, a lutar por comidas mais saudáveis nas cantinas da escolas também é muito louvável e coisa e tal. Mas falar que o docinho mais amado do Brasil é porcaria, foi demais para os meus sais. A partir daí os meus olhinhos enxergaram o monte de porcarias que tem nas receitas dele. A maioria com ketchup, muitas com massa de tomate industrializada, outras com feijão enlatado e doces carregados de açúcar (vide a receita de Hummingbird que ele passou em um dos programas. Leva nada mais, nada menos, do que 750 g de açúcar). Bom, impliquei com o cara.

Terceira consideração: a pessoa pede que as filhas enviem fotos da salada que estão comendo no almoço, mas é claro que não manda a foto do próprio pratinho para as filhas, né?!


Esse causo foi contado no Facebook bem aqui.
A Autora:
Chris Ferreira

Chris Ferreira

Eu, uma mãe integral mesmo trabalhando em horário comercial, que procura equilibrar os diferentes papéis da mulher com prioridades e alegria.

Acredito que podemos levar a vida a sério, mas de forma divertida e é isto que eu tento mostrar no blog.

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