Outro dia uma amiga chegou ao trabalho arrasada porque tinha gritado com o filho na noite anterior. Nessas horas as mães se identificam, se consolam uma a outra, contam as suas experiências. Afinal, qual mãe nunca perdeu a paciência com os filhos e soltou os seus gritos mesmo tendo total consciência de que este não é o melhor caminho? Mesmo tendo experiências anteriores e sabendo que vamos nos arrepender depois?
Saímos em um grupo pequeno de mulheres, todas mães, e o destemperamento da noite anterior ainda atormentava a minha amiga. O assunto na mesa do almoço rolou em torno dos nossos gritos. Gritos que mesmo que não sejam frequentes, que estejam dentro de uma “normalidade”, já que mães e pais são pessoas reais e não criaturas com pureza mítica, muito menos personagens de contos angelicais, fazem nos sentirmos as verdadeiras vilãs de histórias de terror.
Compartilhamos algumas situações em que nos destemperamos. Eu mesma contei de algumas vezes que me transformei na vizinha louca e desequilibrada (quem nunca ouviu uma vizinha dando os seus gritos e pensou “nossa, essa mulher é louca...”?!). Até já falei de forma humorada sobre o livro “Quando mamãe virou um monstro”.
O fato é que todas concordam plenamente de que gritar não é a solução, gritar não resolve, não cria laços, não acolhe. Pelo contrário, gera distanciamento e desentendimento. Gritos não educam os filhos e causam arrependimento nos pais. Não faz bem para nem um dos lados. Então, por que mesmo tendo essa consciência damos os nossos berros vez ou outra?
Em nossos desabafos, entre garfadas de boa comida, concordamos também que é fato que gostaríamos que nossos filhos fossem supereducados, que atendessem as regras acordadas sem que precisássemos repetir zilhões de vezes, mas acima de tudo queremos que sejam felizes, nosso principal objetivo é eles aprenderem a superar dificuldades que a vida vai apresentar ao longo dos anos e permaneçam felizes. E que não é através dos gritos que eles aprenderão isso. Então, por que mesmo tendo esse desejo às vezes soltamos a voz no mais alto tom que alcançamos?
Concordamos também que se gritar fosse um método de educação eficiente nossos filhos seriam educadérrimos e nós seríamos pais brilhantes. Após uma sessão de gritos estaríamos satisfeitos com o nosso desempenho e os filhos perfeitamente felizes. Então, por que mesmo sabendo disso nos destemperamos?
E ainda sabemos que somos exemplo, que nossos filhos aprendem com os nossos exemplos. Foi unanimidade concluir que fica muito confuso querer ensiná-los a se comportarem bem e terem paciência, perdendo a paciência e nos comportando mal.
Entre desabafos, autoanálise, reflexões, conclusões e culpas (mães não desgarram dessa danada), percebi que estou em uma fase grito zero (que isso se mantenha ad eternum, “pufavô”) e me lembrei das minhas épocas mais pólvora que me faziam berrar com as pessoas que mais amo na vida. O que acontecia comigo? Eu fiz algo para melhorar?
- Nas minhas fases mais gritantes não eram as minhas filhas que estavam mais mal educadas e sim eu que estava mais estressada, mais irritada, mais cansada. E identificar isso ajuda muito a resolver a questão.
- O que está motivando o meu estresse? Excesso de atividades? Então, que tal colocar o pé no freio, priorizar, fazer primeiro o mais importante, delegar o que for possível e pedir ajuda?
- O que causou a minha irritação? Descarregar nos filhos vai ajudar. Que tal se afastar um pouco, se dar um tempo, respirar fundo e quando estiver mais calma voltar a tratar o assunto? Nem sempre é fácil. Já aconteceu de eu tentar me afastar e as filhas virem atrás insistindo no assunto. Ai o melhor que eu fiz foi explicar claramente que eu estava irritada e poderia perder a paciência e isso não seria bom pra ninguém.
- Me sentindo consumida pela rotina casa X trabalho? Tirar umas horinhas para fazer algo para mim antes de voltar para casa é um santo energético. Uma pizza com as amigas, um cineminha, uma parada no salão para dar um up no visual, coisas do gênero são renovadoras de energia.
- Nas minhas fases mais gritantes não eram as minhas filhas que estavam diferentes e sim eu que estava com expectativa diferente.
- Ou eu esperava chegar em casa depois de um dia de trabalho e ser recebida por crianças alegres e carinhosas, ou eu esperava chagar em casa depois de um dia de trabalho cansativo e encontrar crianças calmas e tranquilas. Então que tal não criar expectativas e perceber que as filhas também têm seus momentos e suas expectativas? Criei o hábito de no caminho de casa dar aquela ligadinha básica para as filhas, saber como elas estão e já falar do meu estado de espírito. Alinhar as expectativas é tudo de bom.
E procuro sempre ter em mente que:
- crianças são crianças, mas são pessoas também com dias bons e ruins como eu. Adolescentes são adolescentes, mas são pessoas também com mais dias ruins do que bons (e a adolescência passa graças a Deus). O problema é quando tanto elas, quanto eu, estamos em dias ruins. Aí o melhor que eu tenho a fazer é ficar bem para ajudá-las a ficarem bem também;
- nem sempre eu posso controlar ou prever as atitudes e o humor das minhas filhas, mas posso controlar a minha reação;
- muitas vezes eu sou o problema, não elas. Eu que estou precisando gritar para extravasar algum outro problema;
- cuidar de mim me ajuda a ser mais paciente;
- gritar não resolve as coisas e só faz com que me sinta pior;
- sou uma pessoa real e não uma fada boa que brilha, nem um unicórnio colorido. Logo, por mais que eu me esforce para ser melhor a cada dia vou dar aquela escorregadinha básica e esbravejar. Aí o jeito é pedir desculpas e não sentir culpa.
- Paciência acima de tudo. Devo ter paciência até com a minha impaciência.
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