sábado, 23 de fevereiro de 2019

Barreira de Corais, Barreiras Culturais

Barreira de Corais, na Austrália. Um destino mundialmente famoso. O barco para um dia de mergulhos nesse paraíso natural famoso pela diversidade de vida embaixo d'água trazia a diversidade dentro dele. Em torno de sessenta pessoas de várias idades, de diversos países dos cinco continentes e idiomas variados. Nessa Torre de Babel flutuante de semelhantes na diversidade, uma mulher parecia ser a única "diferente", o único peixe fora d'água. Estava ela em seu traje preto que deixava apenas os olhos de fora. Me lembrou aqueles envelopes com janela de plastificada que do conteúdo nos permite conhecer apenas o destinatário.

As pessoas ali na embarcação se cruzavam, trocavam olhares, se cumprimentam, pediam licença, abriam espaço, trocavam palavras e comentários. Em torno da mulher e seu marido o espaço sobrava, ninguém se aproximava, nem trocavam amabilidades iniciais típicas de quem está no mesmo barco.
Por algum momento eu desviei o meu olhar da janela que me abria aquele mar azul conhecido com Mar de Corais e olhei pra janela daquele niqab (corrigido após a explicação da minha amiga Sonja Leser​) e pensei se ela ali estava se sentindo 'diferente', se estava percebendo a diferença na aproximação das pessoas, se teria vontade de participar mais de perto daquele encontro e muitas outras curiosidades me passaram pela cabeça. Tive vontade de me sentar mais próxima e ocupar o espaço vago ao lado dela. Eu gosto dessas aproximações, das trocas que podem surgir deles e das histórias interessantes que podem ser compartilhadas. Mas fiquei com receio de estar infringindo alguma regra da religião ou desrespeitando algum valor da cultura daquela mulher. Deixei pra lá, parei de pensar nas barreiras culturais e voltei a pensar na Barreira de Corais.

Fiz o brief do meu mergulho, mergulhei, fiz snorkeling, nadei, vi peixes e muita diversidade harmônica no fundo do mar. Me distrai.

Em uma pausa, quando subi para o barco com o intuito de descansar um pouco, alguém me avisou que o barco com fundo de vidro estava saindo para um rolezinho sobre os corais: tem vaga, vai sair agora, quer ir?, anda rápido.

Entrei no barco, como quem está em um passeio de dia inteiro de mergulho: de biquíni, descalça, descabelada, apenas com os óculos escuros. Andei rápido, me sentei no único espaço vazio que era no sol. Ou melhor, quiquei pois o barco era de metal e estava muito quente. Mal toquei as nádegas no assento (na pressa nem me lembrei do risco de micose na bunda), gritei um 'ui' e me levantei.
Nessa hora a nossa amiga de passeio dos olhos de fora me chamou para sentar ao seu lado. A única pessoa que tinha espaço ao lado. Cheguei, me sentei, ela chegou mais para o lado e me falou para ficar mais perto dela para eu não pegar sol.

Ficamos ali lada a lado, ela só com os olhos de fora e eu praticamente só de óculos escuros.
Começamos a conversar, ela era do Zimbábue, eu do Brasil, as duas na Austrália. Ela falava um dialeto que não me lembro o nome, eu, português, as duas, inglês. Ela me perguntou sobre viver no Brasil, eu perguntei  sobre o Zimbábue. Falamos de viagens, de lugares bonitos, mostrei um cardume de peixes pequenos para ela, ela me mostrou coral que abria e fechava.

Ali, uma só com os olhos a mostra e a outra só com os olhos cobertos, naqueles quarenta minutos, tivemos tantos assuntos e tantas semelhanças. As duas com as unhas pintadas de marrom. Eu com esmalte de nome "Três Pulinhos" (não resisti quando vi esse nome) e com algo tipo henna.
Fiquei imaginando nós duas, uma ao lado da outra, tão diferentes na forma de expor o corpo, naquele papo animado e trocando sorrisos. Fiquei com vontade de pedir para tirar uma foto com ela que me mostrou tanto de diversidade em tão pouco tempo, quanto o fundo do Mar Corais, barreiras cheias de vida. Mas fiquei com receio de ultrapassar alguma barreira cultural com esse pedido. Então fiz uma foto meio roubada.



Viajar é isso: sair da zona de conforto, aprender com o dos outros, valorizar o nosso, abrir portas, quebrar barreiras. Conhecer e compartilhar.

Postado no Facebook em 23 de fevereiro de 2019

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A Autora:
Chris Ferreira

Chris Ferreira

Eu, uma mãe integral mesmo trabalhando em horário comercial, que procura equilibrar os diferentes papéis da mulher com prioridades e alegria.

Acredito que podemos levar a vida a sério, mas de forma divertida e é isto que eu tento mostrar no blog.

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2 comentários:

  1. Que bela narrativa e acompanhei no stories do Insta. Que maravilha! beijos, chica

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  2. Oi Chica, obrigada por ter acompanhado. Tentei ir mostrando o que achei interessante. Eu adoro conhecer os lugares pelo olhar das outras pessoas. Aí te tei mostrar um pouco para quem também gosta.
    Beijos
    Chris

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