Eu estava em uma livraria folheando o livro “Eu sou as escolhas que faço”, de Elle Luna e parei na página abaixo que me fez ficar pensativa.
“A solidão é o modo como aquietamos o tagarelar incessante da nossa mente. É como criamos a calma necessária e os espaços vazios. A visão precisa de solidão. Porque, quando nossas escolhas nascem de um espaço interior seguro e conhecido, nos tornamos resilientes, ousados e focados.
Qual foi a última vez que você ficou sozinho consigo mesmo? Como foi? O que você sente quando pensa na ideia de ficar sozinho – seja por uma hora ou por um mês?”.
Me toquei que não tenho ficado sozinha ultimamente. O tempo que eu teria para ficar sozinha eu tenho ficado conectada, recebendo informação, conversando com as pessoas. E tenho percebido que eu ando mais cansada, menos criativa (às vezes eu tenho uma ideia e já não sei mais se é algo que imaginei na hora ou se é algo que vi pelas redes), menos focada e mais dispersa.
Observo que quando as minhas filhas ficam muito tempo conectadas seja jogando, conversando com as amigas, vendo as ideias que rolam nas redes ou até estudando com as amigas pelo WhatsApp, elas ficam mais irritadiças, mais intolerantes e mais impacientes.
Em uma ocasião eu cheguei a conversar com a psicóloga sobre essa impaciência e esse imediatismo que eu percebo nelas. A psicóloga falou que essa é a geração do Agora. Mas não é o agora tipo a menina do filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate” que vivia dizendo: “Agora, papai! Agora! Quero um Umpalinga agora!”. Não é uma exigência do tipo menina rica mimada. É um imediatismo porque estão acostumados a ter as respostas na ponta dos dedos, em poucos segundos as “respostas” estão na tela. Assim eles estão desaprendendo a esperar.
Tá certo que todo esse acesso à internet e dispositivos eletrônicos se tornou fundamental pelo valor que eles agregam. Devido à tecnologia, o nosso acesso à música, ao entretenimento, à informação melhorou drasticamente ao longo das últimas décadas. Mas tudo em demasia faz mal, tem consequências, inclusive as coisas boas. Por isso eu tenho sentido a necessidade de um “detox digital” para mim e para as minhas filhas. E como fazer isso?
O meu “detox digital” eu tenho feito diariamente. Reduzi o meu tempo nas redes sociais, tenho evitado as fotos na hora do almoço para deixar o celular de lado e focar na conversa, reservei dois horários por dia para olhar o Instagram, fiz uma limpeza no e-mail para reduzir a minha caixa de entrada.
E como estimular as crianças e adolescentes a se desconectarem?
Eu sou a favor de fazê-las entender que o excesso de tempo conectado faz com que elas percam coisas muito legais e acabem se prejudicando.
É tipo ensinar bons hábitos alimentares. Não acho que seja proibindo, não deixando ter acesso às besteiras, e sim ensinando a fazer escolhas. Eu falei deste meu ponto de vista no post "Sobre ter opções e fazer escolhas".
Então eu acho que medidas radicais, como remover o computador do quarto da criança, tirar o plugue do computador, colocar os cabos da internet na bolsa e levar para o trabalho, etc., são furadas, não ensinam. Faz apenas com que as crianças busquem o acesso em outro local. Quem sabe na casa de um amigo onde os controles são menos rigorosos?
Então vamos a algumas dicas que podem facilitar essa compreensão pela criança.
1 – Fazer um registro do tempo conectado durante uma semana.
Falar que a criança está tempo demais envolvido em jogos eletrônicos e internet fica um pouco vago. Na nossa visão percebemos que é muito tempo, mas na visão da criança que está envolvida pode não parecer tanto. Contra fatos e dados não há argumento. Com essa medida real de tempo a criança pode se surpreender, e nós pais podemos agir com mais embasamento.
2 – Fazer uma lista de atividades que a criança gosta de fazer.
Com essa lista em mãos mostre o que ela poderia ter feito se tivesse ficado menos conectada.
Outro dia mesmo a Sofia veio falar que a gente não estava mais desenhando, nem colorindo. Perguntei o que estávamos fazendo no tempo que antes usávamos para fazer essas atividades. Ela rapidamente concluiu que estávamos consumindo tempo demais vendo séries. Assim negociamos ver no máximo dois episódios por dia e usar o tempo restante para desenhar.
3 - Definir atividades a serem feitas antes de se conectar.
Com base na lista anterior das atividades que eles gostam de fazer definir escolher duas ou três para serem feitas por dia.
Definir também atividades obrigatórias antes de pegar o celular ou qualquer outra coisa. Por exemplo, só pode começar a usar a tecnologia depois que arrumar a cama, arrumar o quarto, etc.
4 – Participar da vida conectada do seu filho.
Nada melhor para gerar confiança em quem ouve do que falar com conhecimento de causa. Por isso jogar com o filho, conhecer os jogos, ver os canais do YouTube que ele gosta, etc. cria uma proximidade, mostra que você está de mente aberta. Isso faz com que a criança nos ouça melhor, aceite mais as suas sugestões. Eu mesma comecei o blog por causa da Ana Luiza. Ela quis ter um blog e eu fui mostrar interesse para poder conduzir e orientá-la. Aí gostei do negócio. Contei neste post AQUI.
5 – Sugerir atividades interessantes dentro ou fora de casa.
Não basta dizer para fazer outra coisa em vez de ficar plugado e não dar alternativas. Combine uma ida ao clube com os amigos, um passeio ao ar livre, uma brincadeira diferente em casa, cozinhar juntos, fazer arte, criar brinquedos reciclados, andar de bicicleta, coisas do gênero.
Eu andei utilizando o tempo conectada da Sofia para mostrá-la alguns vídeos de atividades e brincadeiras para fazer com as crianças. Ela gostou de algumas e combinamos de repeti-las. Essas brincadeiras nos renderam boas horas com os celulares, tablets, iPads, iPhones, vídeogames e TV completamente esquecidos.
Contei dessas brincadeiras nos post "Jogo de bolinha de gude - Criança grande também brinca" e Briincadeira sem brinquedo.
6 – Ter contato com a natureza.
Estar em contato com a natureza é uma verdadeira terapia. Programe passeios para ter contato com a natureza, observar os detalhes que encontram pelo caminho, contemplar a vista, etc. E nada de uma tela de vídeo pendurada no banco traseiro para entreter as crianças durante o percurso. Nada de ficar no celular enquanto estamos no caminho de ida e volta. Vamos olhar pela janela e observar o que o caminho tem a oferecer. Vamos buscar curiosidades do lado de fora e contar histórias.
7 – Avaliar o tempo desconectado.
Converse com as crianças sobre o tempo que passaram desconectados, se foi legal, se foi divertido, como se sentem fisicamente, como se sentem mentalmente. Mostre como valeu a pena, o quanto são ricas as recompensas por passar mais tempo juntos e conectados a coisas realmente importantes.
Na verdade não são dicas para desconectar os filhos, e sim para ensiná-los a manter o equilíbrio e usar a internet de forma benéfica e produtiva, sem prejudicar a porção desconectada da vida.
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