Hoje eu recebi a frase "Morar no Rio é bom, mas é uma merda. Morar em Nova York é uma merda, mas é bom." tida como de autoria de Tom Jobim e me lembrei da saga para um simples passeio de bicicleta que contei no Facebook
A pessoa acorda às 6h30 da manhã em pleno sábado de feriado na maior disposição para pedalar.
Verifica as estações de bicicleta, lê estação operando com 12 vagas. Entende que tem 12 bikes disponíveis na estação, pois aquela hora não era possível que o povo todo já estivesse pedalando.
Depois de se aprontar rapidamente e passar protetor solar, pega uma maçã e sai comendo. Na portaria deixa os ainda 3/4 da maçã cair no chão.
Tudo bem, a maçã vai fazer falta no estômago da pessoa durante a pedalada, é certo. Mas ela ainda pode ser útil. Pega a tal, tida como fruta do pecado, coloca em uma árvore. Quem sabe algum passarinho ou mico façam bom uso dela...
Segue para a estação de bike e... nem uma disponível. Verifica no aplicativo que a estação mais próxima com apenas 2 magrelas disponíveis está a 5 quarteirões dali, o que significa 5 quarteirões mais distante do destino de pedalada.
Tudo bem, bora lá pegar a bike antes que alguém chegue. No caminho já vai fazendo aquele pedido básico para São Longuinho e promete os 3 pulinhos. Chega à estação, verifica pneu, banco, freio e solicita pelo aplicativo a primeira bicicleta. A luz verde acende, mas a bicicleta não sai. Espera o passe ser liberado novamente no aplicativo, verifica pneu, branco, freio e solicita a segunda bici. Luz verde acende, puxa e a magrela se solta. Oba.
Lá vai a pessoa pedalando pela ciclovia rumo à Enseada de Botafogo. Pedala onze quarteirões, encontra a amiga no Mourisco e seguem pela Enseada em direção ao Aterro do Flamengo. Até faz uma pausa na pedalada para fotografar o visual da manhã de sol.
Praticamente no final da Enseada percebe que o pneu furou. Está completamente vazio.
Tudo bem, verifica a estação mais próxima com bicicletas disponível. É aquela do Mourisco. Volta, entrega a bicicleta, liga para o Call Center para liberarem o passe já que não completou o tempo, a atendente libera e informa que a tal estação, exatamente aquela em que pessoa está ali em frente, está em manutenção e não será possível fazer a retirada ali.
Tudo bem, verifica a estação mais próxima com bicicleta disponível. É na Urca e tem apenas 2. Pega um táxi. Vai fazendo o pedido para São Longuinho. Dessa vez faz o pedido mais completo: não basta achar a bicicleta, tem que estar boa, funcionando e não estragar durante a pedalada. Só assim São Longuinho, você ganhará os três pulinhos. Parece que São Longuinho entendeu o pedido!
A pessoa pega a sua magrelinha e ruma pedalando apressada, pois sua amiga está no Mourisco a aguardando. Encontra a amiga e finalmente elas fazem o caminho da Enseada de Botafogo, Praia do Flamengo com pausa para um coco gelado de frente para o mar.
Aterro do Flamengo por entre as árvores para aproveitar a sombra e tudo de lindo que pode ser visto por ali.
Seguem até o MAM, entra pela Avenida Rio Branco e a cada pedalada admiram a beleza da cidade que mais vazia pode ser observada melhor.
Continuam pela Praça XV e após parada na feira de antiguidades seguem pela Orla Conde
até o Museu do Amanhã,
continuam pelo Porto Maravilha até o painel Etinias e voltam pelo mesmo caminho. Passam novamente entre as árvores do Aterro do Flamengo.
Fazem uma nova parada para se hidratarem com uma água de coco. Ficam admiradas com a cor e tranquilidade da água. E nesta hora comentam mais uma vez da beleza da cidade. Qual cidade do mundo tem um parque verde e lindo como o Aterro do Flamengo de um lado e a praia de outro?! Precisamos dar valor a isso! Precisamos cuidar disso!
Já com as pernas bambas, seguimos de volta pela Enseada de Botafogo.
Só digo uma coisa! Valeu muito a pena e insistência, a persistência, a saga para encontrar a bicicleta. Começar o dia com esse visual, ver a Praia do Flamengo com água transparente, tomar uma água de coco gelada e terminar com esta vista, compensa... compensa muito.
Mas mesmo assim, para garantir, entreguei a bicicleta bem próxima à feira e finalizei o passeio com pastel de queijo e caldo de cana. Quem pedalou esse tanto merece, né?
Morar no Rio é bom, a cidade é linda. A natureza, os contornos dessa cidade fazem dela realmente maravilhosa. Tão maravilhosa que saímos agradecidas após um passeio desses, mesmo depois da dificuldade em ter um serviço que pagamos por ele. Mesmo depois de constatar que algo que era bom, que funcionava bem, está ficando abandonado. Mesmo depois de ver que a própria população estraga, depreda, o pouco que nos oferecem.
No caso deste passeio as poucas bicicletas disponíveis estavam com o banco quebrado ou sem retrovisor. Quem retira os retrovisores? Quem quebra os bancos?
O Aterro do Flamengo, esse parque lindíssimo, como poucos no mundo estava cheio de lixo no chão. Quem joga o lixo ali, mesmo tendo uma lixeira próxima?
Na Orla Conde o parquinho infantil estava com as camas elásticas já destruídas. Quem quebra e estraga os brinquedos instalados nos parquinhos?
Realmente morar no Rio é muito bom (eu adoro e sempre exalto o lado bom da cidade), mas em determinados pontos de vista é uma merda sim.
PS: entrei em contato com a Bike Rio para entender a dificuldade em pegar uma bicicleta, apesar da facilidade em pagar por ela. Fui informada que o sistema está sendo trocado e por isso muitas bicicletas já foram recolhidas. Já tem data para a troca do sistema em São Paulo, mas ainda não tinham previsão para o Rio de Janeiro (Cidade Maravilhosa, mas muito castigada por todos). Sugeri então que os passes também fossem recolhidos no aplicativo, pois não é justo toda a facilidade para pagar por uma Bike que não está disponível.
PS: pesquisei no Google e a frase de Tom Jobim parece que foi essa: "Viver no exterior é bom, mas é uma merda, viver no Brasil é uma merda, mas é bom.".
Parte da história foi contada no Facebook e está aqui para ficar guardadinha com carinho.