Eu passei a semana do Carnaval em Caraíva no Sul da Bahia. Um lugar que mais parece um paraíso, uma volta no tempo. A vila, que é distrito de Porto Seguro, conseguiu, até o momento, manter as características de vilarejo praiano: casinhas coloridas; ruas de areia fofa, mas areia fofa mesmo, tipo areia de praia; sem postes de luz (a luz chegou em 2007 às casas através de fiação subterrânea para não poluir o visual); carros não chegam por lá; muita simplicidade e originalidade. Caraíva se mantém hoje em dia como Arraial d’Ajuda, Morro de São Paulo e Jericoacoara já foram há 20 anos .
A aventura começou no acesso para chegar à Caraíva. A estrada, a partir de Trancoso, é de barro e pouco conservada até a chegada em Nova Caraíva. Lá pegamos uma canoa para atravessar o Rio Caraíva
e finalmente chegar à vila.
Ainda bem que estávamos de havaianas! Caraíva é aquele tipo de lugar que a gente tem que se esquecer dos sapatos.
Tá certo que Caraíva combina com um bom mochilão, mas a vida de mãe me fez ir com mala de rodinha (nossa, como eu me lembrei de mim mesma sacaneando as amigas que foram de mala de rodinha pra Ilha Grande e para Morro de São Paulo. Mais uma confirmação de que a maternidade é um eterno "cuspir pro alto e cair na testa"). Como não dá para puxar mala de rodinha na areia fofa nós alugamos um táxi-charrete pra levar as nossas malas até a pousada.
A chegada à pousada (lá não tem hotéis, mas tem pousadas bem charmosas) foi outro momento de emoção. O nosso bangalô na Pousada Cores do Mar era de frente pra praia, com
deck de madeira e espreguiçadeira tipo balanço.
Ótimo pra curtir um “
dolce far niente sem culpa nenhuma” de pernas pro ar.
Uma pousada charmosa com os quartos confortáveis distribuídos em casinhas coloridas bem no estilo da vila. O café da manhã era bem gostoso e, além dos itens tradicionais, como bolos, pães, sucos, leite, café, iogurte, granola, biscoitos e frutas, diariamente eram servidas duas surpresas tipo bolinho de estudante, tapioca, bruschetta, pastel, bolo de tapioca, etc.
A área comum da pousada tinha uma decoração rústica e aconchegante. O lazer na pousada ficava por conta de algumas redes, um gramado e pé na areia da praia.
Eu achei isso ótimo porque mostrou pra Ana Luiza e pra Sofia que precisamos de pouco pra nos divertir. Balançaram na rede e na espreguiçadeira, jogaram frescobol e bola no gramado, aproveitaram o slackline que outra família tinha levado, leram, desenharam e curtiram muita praia.
Caraíva em si é mínima! Apenas um triângulo com o rio de um lado, o mar de outro e limitada pela reserva indígena.
Mas tendo o mar, rio e mata, quem precisa de mais? A grande dúvida era decidir entre o banho de rio e o banho de mar.
Como o nosso objetivo nessa viagem era aproveitar ao máximo os benefícios desse lugar que parece que parou no tempo e está bem distante dos artefatos da vida moderna ficamos a maior parte do tempo na Praia Caraíva bem em frente a nossa pousada. Mas fizemos outros passeios também.
- Praia Caraíva
Os 2 km de praia de areia fofa e água azul são protegidos por recifes e na maré baixa são ótimas para nadar e mergulhar sem preocupação. Bem ao lado da Cores do Mar estava o Bar da Praia com mesas de madeira, puffs coloridos, ombrelones e comida bem gostosa.
- Praia da Barra
É a pontinha onde o rio encontra com o mar e fica no canto esquerdo da Praia Caraíva. Aproveitar a maré baixa ali é uma delícia! Tem diversas barraquinhas, com cadeiras e tendas disponíveis, que servem bebidas e petiscos.
Nadamos no Rio, nos jogamos de boia na correnteza, atravessamos até os bancos de areia e simplesmente relaxamos.
Pegamos uma canoa e atravessamos até o outro lado do rio, paramos na lagoa formada na maré baixa,
mergulhamos no mar
e curtimos o visual de uma praia praticamente deserta que já é o caminho para a Praia do Satu.
- Praia do Satu
Fica a 3 km de Caraíva no caminho para o Espelho. Dá para ir a pé, caminhando pela areia da praia, após atravessar o Rio. Outra opção para quem está com crianças é ir de táxi. A praia é praticamente deserta, com um visual incrível de mar, areia branca, falésias vermelhas e lagoas. Tem uma barraca bem rústica que é a barraca do Satu.
- Praia do Espelho
Essa já era nossa conhecida e que sempre vale a pena retornar. Aliás, vale a pena um post exclusivo sobre esse paraíso.
O espelho fica a 10 km ao norte de Caraíva, no cominho para Trancoso. Os mais aventureiros fazem o percurso a pé pela beira do mar. Nós, como estávamos com as crianças, fomos de carro. Atravessamos o rio e pegamos o táxi em Nova Caraíva. Foi um dia fantástico!
- Ponta de Corumbau
Fica a 12 km ao sul de Caraíva e é belíssimo! Areias brancas, mar azul, muitas falésias e coqueiros. A grande atração é a ponta de areia que adentra aproximadamente 500 metros o mar. Para chegar lá nós fomos de bugre pela areia,
passamos pela aldeia indígena até chegar ao Rio Corumbau. Atravessamos de barco e seguimos caminhando até a ponta de areia. Lá ficamos em um dos vários bares disponíveis na praia. Esse é outro local que merece um post exclusivo.
- Passeio de boia pelo Rio Caraíva
Nós planejamos fazer o passeio em que subiríamos o rio de barco e depois desceríamos em boias de câmara de ar ao sabor da correnteza. Mas a preguiça bateu e ninguém quis ir. Ou melhor, a maioria preferiu ficar na praia. Euzinha estava doida para mostrar pra as filhas as tais boias pretas que foram a minha diversão na Lagoa de São Pedro d’Aldeia quando eu era criança. Ainda acho que vacilamos em não ter feito o passeio!
- Conhecer a vila
Caminhamos pelas ruas de areia, que sempre terminam no rio ou no mar, observando a simplicidade, a singeleza e a criatividade do povo. E esses passeios foram ótimas oportunidades de aprendizado. Caraíva bate um bolão no quesito conservação e é um excelente exemplo de comunidade que luta para não perder suas características. Exigiu que a luz elétrica só chegasse por vias subterrâneas, sem uso de postes.
Os moradores também se uniram para manter as ruas limpas e assim surgiu o
Projeto Caraíva Limpa, que tem por objetivo:
“Aumentar a quantidade de cestos de lixo nas vias públicas e aumentar a capacidade do recolhimento do lixo, através de contribuições voluntárias ao Projeto.
Conscientizar os frequentadores e turistas sobre a problemática do lixo, além de incentivar a separação correta do lixo orgânico, reciclável (latas de alumínio, principalmente) e lixo comum.”
Além de placas espalhadas por todos os cantos incentivando jogar o lixo no lixo,
existem vários cestos feitos com reciclagem de galões de água espalhados por todos os cantos. Uma graça, né?
Outro cantinho interessante é o que tem bacias com água e pratinhos de comida para os animais da vila. Nos caixotes em cima das árvores ficam os pratinhos de comida para os gatos e os pássaros.
Observamos a arquitetura local das casinhas coloridas que se espalham pelas vielas e a criatividade dos moradores. Pudemos ver como pequenos detalhes fazem toda a diferença.
Caminhamos ao longo da Av. dos Navegantes, a rua do Rio Caraíva, onde praticamente tudo acontece. Foi encantador e surpreendente. Lá tem vários bares e restaurantes sendo alguns com mesas de madeira bem à beira do rio, e outros no estilo "rústico com glamour". A comida varia do simples pastel a alguns pratos regionais com toque gourmet. Tem sorveteria e paletas mexicanas.
Sentamos em algumas dessas mesas à sombra de uma árvore frondosa, tomando um sorvete com as crianças, para ver o por do sol no rio que é imperdível. Uma outra pedida é saborear um pastel acompanhado de uma cervejinha (pra quem gosta).
Andamos pelas lojinhas que são supercharmosas e só abrem após a praia. E de repente nos surpreendemos com uma sessão de cinema à beira do rio.
E atenção para não se deslumbrar com o encantamento da rua do rio e parar por ali. Vale a pena esticar a caminhada e seguir até o quadrado de Caraíva para visitar a igrejinha. Lembre-se que reza a lenda que ao entrar pela primeira vez em uma igreja podemos fazer três pedidos. A igreja de Caraívas já tem os meus pedidos.
E Caraíva é isso! Um lugar pra gente se desconectar da vida moderna (celular praticamente não pega por lá e não tem caixa eletrônico) e se conectar com a natureza, andar com os pés descalços, ver o sol nascer, ver o sol se pôr, contemplar a via láctea no céu estrelado, tomar banho de mar e de rio, e deixar o tempo passar sem pressa. Sabe aquela sensação de que a semana voou? Isso, não tem por lá. A sensação é de que os dias andaram no seu tempo, foram muito bem aproveitados e com folga pra fazer nada.
PS: apesar de ser um destino sem atrativos exclusivos e direcionados para crianças eu vi muitas delas por lá aproveitando com os pais.
Este post faz parte da Blogagem Coletiva "
A Semana" proposta pela
Fernanda Reali. Passe lá para ver como foi a semana das outras amigas participantes. Essa blogagem é um estímulo a aproveitarmos mais as nossas semanas.