Sabe, eu procuro ficar atenta e passar para as minhas filhas noções de como controlar a grana que entra, como economizar, o que fazer para aproveitar melhor o tão suado dinheirinho que está cada vez mais difícil.
Mas mesmo eu tendo esse cuidado, me peguei indo contra os meus próprios conceitos e ensinamentos. Vou contar.
Estava eu saindo para trabalhar, já meio apressada, naquele limite do horário para sair de casa e chegar sem atraso, mas ainda com algumas coisinhas para deixar resolvidas, quando a Sofia chega e comunica:
- Mãe o bebedouro do hamster quebrou e perdemos uma escada da gaiola dela na última limpeza.
Na pressa e pensando somente em resolver de forma rápida para eu ter tempo de ver as outras coisas, eu respondi:
- Aproveita quando você for para o inglês e passar na frente da loja de animais e compra outra.
Simples assim. Quebrou, compra outra. Não precisa nem avaliar se existe outra alternativa, nem verificar se tem outro local mais barato, nada. Perdeu, compra outra. Não precisa nem procurar, nem avaliar se a tal escada é tão fundamental assim para a vida do hamster ou se ele pode passear alegremente por sua gaiola sem sentir falta do instrumento de subida e descida. Tive uma atitude totalmente diferente do meu discurso e o pior é que nem me dei conta disso.
Resolvi as outras coisas e parti alegremente para o trabalho com a sensação de dever cumprido, vida organizada, atividades matinais concluídas e imprevistos resolvidos. Toda, toda satisfeita e preparada para as mais mil coisas que viriam pela frente. Já fui no meu caminho pensando nos próximos afazeres e na minha cabeça ocupada nem tive tempo para rever as minhas atitudes matinais, em pensar se fiz tudo nos conformes, se poderia ter feito melhor ou coisa e tal. E assim o dia seguiu.
No final do dia cheguei em casa e estou eu lá no meu dia a dia com as filhas, marido e tudo mais até que vou na varanda e vejo a gaiola do hamster com um bebedouro adaptado.
Ainda sem me tocar da coerência da minha atitude eu perguntei:
- Ué, você não comprou o bebedouro novo? Por quê? Não teve tempo de passar na loja?
- Não mãe. Não comprei porque não precisava. Eu achei um bebedouro antigo e consegui prendê-lo na gaiola com fita adesiva. A gente não pode sair comprando tudo. Se dá para consertar por que comprar? Temos que economizar dinheiro e não gerar mais lixo na natureza.
Tóin... Foi somente neste momento, nesta lição que a Sofia me deu, que eu ouvi o discurso que prego em relação a comprar, comprar, comprar sem pensar e percebi que agi de forma totalmente oposta.
Dei os parabéns para ela. Mas não parou por aí. A Sofia completou:
- E não comprei a escada também. Eu fiz uma usando hashi, palito de dente e fita crepe.
Mais uma vez morri de orgulho da minha pequena, dei os parabéns, elogiei muito a atitude dela e assumi que eu poderia ter feito melhor. Falei:
- Caraca Sofia, que legal que você fez isso! A escada ficou muito legal. O bebedouro ficou ótimo. Você pensou bem e foi muito criativa. Eu na pressa nem pensei direito, mas ainda bem que você já tá ligada que é importante a gente usar o dinheiro e os recursos da melhor maneira possível para não desperdiçarmos. Gostei! Parabéns!
E fiquei pensando... pensando... em como uma simples reposta rápida pode ser tão contrária a tudo o que eu prego sobre o assunto. Em como aquela solução apressada pode ser tão limitadora da criatividade. Simples né? Pega o dinheiro e compra! Como essa facilidade pode nublar a visão para alternativas diferentes. E pensei em como a falta ou restrição de recurso pode ser um estímulo a buscar novas soluções. Que bom que a minha filha me deu o estímulo para essa autoavaliação.
Eu passo valores, prego os valores que acho importantes, fundamentais e imprescindíveis, mas algumas vezes acabo agindo um pouco fora deles. Seja porque estou apressada e atribulada, como foi o caso nesta situação, seja porque estou cansada e naquela hora não quero entrar em conflito, seja porque simplesmente não sei como agir naquele momento. Errar eu vou errar uma vez ou outra, não tem jeito. Motivos e razões, tenho muitos. Mas o importante é não ficar apoiada nas justificativas e ter atitude para fazer os ajustes. É importante me dar um tempo para reavaliar, coisa que eu não fiz naquele dia, identificar os pontos que devo melhorar e ter coragem para mudar.
Neste caso eu nem precisei parar para avaliar a minha atitude. A Sofia me mostrou claramente e eu fiquei muito feliz. Feliz por ela ter sido tão criativa e feliz por mim que mesmo cometendo os meus deslizes na educação delas, mesmo entrando no automático em algumas situações, mesmo me mantendo na minha zona de conforto em outras, estou conseguindo passar os valores que acredito.
Essa é uma das belezas da maternidade, mesmo nos nossos erros reconhecer os acertos nas atitudes dos filhos. Sentir a consistência do nosso amor mesmo na inconsistência da alguns gestos.
É ensinar e aprender muito com eles. É estar disposta a ser melhor a cada dia. É ter coragem, força, disposição e inspiração na vida deles, os filhos, para sair da zona de conforto, para desligar o automático, rever o rumo, retomar o caminho ou até mudá-lo se for necessário.
Nossa correria no dia a dia né mesmo,
ResponderExcluirmais sabe que tirei uma lição disso, que
os filhos vem aprendendo o que ensinamos.
Com os filhos aprendemos muito.
bjs
Parabéns Soso bjsss
ResponderExcluirRealmente os filhos prendem rápido se temos paciência e praticamos o que ensinamos. Achei fantástica a idéia da sua filha. Ser mãe é aprender e ensinar.
ResponderExcluirAdorei o post.
Beijo
Inteligente demais a sua filha. Resolveu o problema com muita criatividade. :)
ResponderExcluirSeus ensinamentos ficaram na cabecinha das meninas...vo^ce está colhendo o que plantou!!Muito legal ver a atitude da Sofia!parabéns!
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