Dia nublado

Como uma simples mudança na rotina pode fazer uma grande diferença no nosso dia, né? Mesmo eu sabendo disso ainda continuo me surpreendendo.

Hoje, uma manhã chuvosa, cinzenta e fria para carioca, eu saí para trabalhar. Resolvi levar os meus pensamentos por outros caminhos e sair da trilha do “cariocas não gostam de dias nublados”, “dias assim são ótimos para ficar na cama”, “um dia perfeito para ficar no sofá com um cobertor, vendo um filme e comendo pipoca”, e outros caminhos tão óbvios e costumeiros em dias como o de hoje. Resolvi fazer diferente. Resolvi apreciar essa manhã com outro olhar. Resolvi buscar alegrias e pequenos prazeres.

Saí mais cedo, caminhei com calma sentindo o prazer de ter o corpo aquecido pela roupa na medida certa, sem sentir calor (coisa rara no Rio), nem frio. Observei os reflexos nas poças deixadas pela chuva da noite. Não tirei fotos, mas me lembrei de diversas fotos que refletem a beleza dos reflexos que eu já vi.

Quando cheguei à estação do metrô o primeiro pensamento que me veio em mente foi de que preciso sempre entrar no mesmo acesso, pois o meu senso de direção por baixo da terra não é lá dos melhores e sempre que mudo a entrada, acabo indo na direção errada. Resolvi então, não valorizar essa pequena limitação, resolvi me dar a oportunidade de ficar focada e atenta, de sair do automático. Resolvi que iria desviar o caminho rotineiro, usar outro acesso e, dessa vez, chegar ao meu destino sem tropeços.

Atravessei a rua e cheguei na praça bem ali ao lado. Uma praça que eu gosto da movimentação, mas que sempre passo por ela no retorno, no fim da tarde. Acho que nunca passei por ela nesse horário e em um dia chuvoso. Ou melhor, devo ter passado várias vezes, mas sempre no automático, sem a disposição para apreciá-la. Hoje pela manhã eu estava disposta a ampliar o olhar, ver detalhes que aos meus olhos passaram despercebidos em outros dias. Olhar através de uma grande angular ampliando o campo de visão e observando os detalhes que ressaltam na totalidade da cena.

Vi um vendedor de pão caseiro que sempre esteve ali e eu nunca me dei conta. Senti o cheiro do pão de milho, imaginei o sabor e não resisti, saboreei um bem quentinho e macio. Satisfação!

Olhei para o lado e no meio do cenário cinzento uma árvore florida me saltou aos olhos. O céu cinza ao fundo deixou as flores mais coloridas. As gotas de água deixadas pela chuva tornaram as flores mais cheias de detalhes. Alegria!

E graças a essa pequena mudança de atitude o meu caminho até o metrô se tornou um breve passeio, as coisas mais simples se tornaram as mais importantes, meu dia nublado ficou florido.

E o blog que não teria post hoje, ganhou esse texto.