Concluí mais um revisteiro para enfeitar, alegrar e organizar a minha casa.
Este vai ficar na sala organizando as revistas, jornais, etc., que estamos lendo no momento. Os outros dois foram para os quartos da Ana Luiza e Sofia respectivamente e eu mostrei no post "Organização de Quarto - Revisteiro".
Pintar essas peças cheias de detalhes dá um trabalho enorme, consome bastante tempo, mas traz uma satisfação sem tamanho. Já falei do bem que fazer artesanatos nos proporciona no post "Terapia Artesanal".
Fazendo essa peça e observando as minhas filhas me ajudando, eu pensei em outros aspectos do bem que faz reservar um tempo para parar fazer uma atividade de longa duração. Do quanto esta espera para ver o resultado nos reconecta com o valor do processo. Nos faz pensar no tempo para se alcançar algo, para chegar a um resultado, para ter uma resposta. Nos faz repensar em como a nossa relação com o tempo ficou tão sem tempo.
Eu me lembrei de uma ocasião em que falei com a psicóloga sobre a impaciência e intolerância das minhas filhas e a pressa para ter as respostas. Elas querem as respostas de imediato. Se respiro um milésimo de segundo para pensar sobre a melhor resposta, pronto! Já deu! Sou desligada, desatenta, nunca (olha o exagero do nunca) respondo nada, e por aí vai.
Por um lado a psicóloga me tranquilizou informando que esta não era um questão das minhas filhas, mas sim dos adolescentes dessa geração em que as respostas estão todas a milésimos de segundos, ao alcance dos dedos, apenas a um clique nos celulares. Já que eles têm o "São Google" para lhes dar as respostas (nem sempre as melhores respostas) em frações de segundo.
Bem que eu me sentia exigida como se fosse a Dona Google e vivia, aliás vivo, lembrando as minhas filhas que eu não sou Google, não tenho todas as respostas, nem estou ligada a uma rede 4G de velocidade máxima.
Ou seja, ter informações, respostas, disponibilidade das pessoas (através das redes sociais e WhatsApp), com muita rapidez reduz a capacidade de suportar a espera. Estamos com uma geração, na verdade eu prefiro dizer um grupo, acho que generalizar uma geração inteira é muito forte, mas um grupo grande de adolescentes imediatistas, impacientes e intolerantes em relação ao tempo. E muitos adultos também.
Além do mais, vivemos em um mundo onde tudo é muito pronto, as coisas estão ao alcance de uma prateleira. Se eu quero um bolo vou ali e compro. Se quero um pão, praticamente nem se cogita a possibilidade de fazer em casa. Imagina esperar aquele tempo todo para a massa descansar e ainda assar? Tá louco!
O dia a dia, os muitos afazeres, as muitas informações que temos para absorver, as muitas coisas que temos para consumir, o muito que temos para conhecer, nos apressa. Não temos tempo de esperar o tempo do processo. Ficamos no mecânico. Não temos tempo.
Nos afastamos do artesanal da vida e estamos ficando incapazes de esperar. A pressa, a rapidez, a agilidade e o mecânico nos deixam ansiosos. Nos cansa.
Por isso eu acredito que voltar ao artesanal vez ou outra é ótimo para trabalhar a resiliência, a paciência, a tolerância e aprender a esperar o tempo, a desfrutar do processo.
Sempre me perguntam já afirmando: fazer essa pintura é um trabalhão, né? E eu digo é um processo.
E eu adoro incluir as minhas filhas nesse processo. Não só pela companhia delas, para fazermos algo juntas, mas principalmente para que elas aprendam a ver valor no esforço de fazer. Para que elas sintam o quão gratificante é ser o processo e não apenas parte final de um mecanismo.
O processo é longo: escolhe a peça que vai pintar, dá a base, lixa, pinta nas cores de fundo em muitas camadas até ficar com a cor uniforme.
Bate a estampa.
Pinta as figuras mais uma vez em muitas camadas.
Faz os detalhes.
Dá o acabamento, fica feliz e já começa tudo de novo.
O processo é demorado sim, mas descansa. Nos aproxima novamente do artesanal da vida. Sem pressa. Recupera a nossa capacidade de administrar a espera. Segura a ansiedade. Relaxa. É um tempo para a nossa relação com o tempo que nos devolve ao tempo, mais revigorados.
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